Parte 1 ‒ Abominação da Desolação: sistema monetário e financeiro unificado globalmente (p. 1-10, em 18/09/25)

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   É importante termos em mente, o fato de estamos focalizando aspectos sócio-históricos, pela perspectiva da história em muito longa duração, conforme Fernand Braudel definiu a longa duração[1] O Jesus histórico previu que a sua volta ocorreria no contexto de abruptas convulsões e transformações sociais, logo após a instalação da “abominação da desolação” no lugar santo, isto é, essa abominação como objeto de adoração. Ele se referira ao perverso sistema monetário e financeiro voraz, que já nos é contemporâneo. O qual é análogo àquele empregado pelos reis do Império Macedônico (cf. Mt 24, 15, 21-22).

   O Jesus histórico previu, também, que a sua volta ocorreria, por um aspecto, como ruptura, isto é, de modo brusco e inesperado e, por outro, no contexto do período inicial do estágio Noé pós-diluviano e, por outro aspecto ainda, imediatamente antes do “novo dilúvio”. O signo “Dilúvio” consiste em representação alegórica de “êxodo caótico e abrupto das populações citadinas famintas em direção ao campo”. Situação essa decorrente da quebra das cadeias de produção e da distribuição dos produtos, mais a quebra dos meios físicos e ideológicos de controle social. Enfim, convulsão social generalizada, em todos os mercados macrorregionais integrantes da grande rede global de mercados macrorregionais Lamec III, em longa e grave depressão socioeconômica e política Noé. (cf. Mt 24, 37-39).[2]

   O Jesus histórico respaldou o profeta Daniel. O qual conhecia os estudos feitos pelos grandes profetas individuais, que lhe precederam: Isaías, Oséias, Jeremias, Ezequiel, Deutero-Isaías, Zacarias, etc. O Zacarias se referiu de modo apenas alusivo e indiretamente as escala Jared e Henoc II. Pois, no tempo histórico de cada um desses grandes profetas individuai, a configuração geopolítica relativa a escala de expansão, Henoc II, do Grande Mercado pós-diluviano ainda não havia se concretizado. Nesse sentido, Zacarias se referiu à escala Jared, simbolizando-a na terceira parelha de cavalos (brancos) do respectivo carro e, a seguir, ele se referiu a sucessiva quarta parelha de cavalos (baios) (cf. Zc 6, 1-3). Quanto a Zacarias, consulte explicação pertinente.[3] Tais grandes profetas identificaram, gradativamente, cada qual ao seu tempo histórico, as quatro primeiras e sucessivas realidades sócio-históricas. As quais corresponderam, respectivamente, aos quatro primeiros e sucessivos signos (Set ‒ Novo Imp. egípcio; Enos ‒ Imp. Assírio; Cainan ‒ Imp. Babilônico caldeu; Malaleel ‒ Imp. Persa) representativos das quatro primeiras escalas de expansão do Grande Mercado pós-diluviano. Quatro signos esses que integram a totalidade dos sete signos representativos das sete escalas de expansão do Grande Mercado pré-diluviano, que constam na teoria sócio-histórica em longa duração, que chamo de teoria da genealogia de Adão, e que está registrada por meio de hermética alegoria genealógica, no “Livro da história da família de Adão” (cf. Gn 5, 1-32)

   Pois, a teoria da genealogia de Adão está representada de modo hermeticamente codificado, por meio de alegoria genealógica, no “livro da história da família de Adão” (cf. Gn 5, 1-32). Note que, desde Moisés, e também os sucessivos grandes profetas individuais consideraram como cíclico o modelo das sete etapas expansivas do Grande Mercado abstraído da realidade sócio-histórica do Antigo Egito. Portanto, esse modelo iria se reproduzir na realidade sócio-histórica em longa duração, na forma de novo Grande Mercado, agora, pós-diluviano. O qual começou com o novo signo Set representativo do Novo Império egípcio (1580-1160 a.C.)[4]. Em razão disto, os referidos grandes profetas individuais se dedicaram na pesquisa em tela.

   Daniel foi o primeiro a identificar o perverso modelo de sistema monetário e financeiro, que os reis macedônicos operavam sobre os povos sob seus domínios. Daniel chamou esse sistema de Abominação da Desolação. Ele conhecia a teoria sócio-histórica hermeticamente codificada, por meio de alegoria genealógica, que está contida simbolicamente no livro da história da família de Adão (cf. Gn 5, 1-32). Daniel conhecia também as identificações feitas pelos grandes profetas que o precederam (Isaías, Oséias, Jeremias, Ezequiel, Deutero-Isaías e Zacarias), relativas às escalas de expansão do Grande Mercado pós-diluviano: Set ‒ Novo Imp. Egípcia; Enos ‒ Imp. Assírio; Cainan ‒ Imp. Babilônico caldeu; Malaleel ‒ Imp. Persa.  Assim, Daniel sabia que estava situado no contexto geopolítico, mercantil e monetário e financeiro, Jafet, em que viveu em Jerusalém, na Palestina, sob o império dos reis macedônicos. Ou melhor, contexto geopolítico sob o domínio do perverso Império Macedônico ou Helenístico, que na teoria sócio-histórica em muito longa duração da genealogia de Adão corresponde à 5ª escala de expansão do Grande Mercado pós-diluviano. Quinta escala essa nomeada JARED, na referida teoria sócio-histórica hermeticamente codificada, por meio de alegoria genealógica contida simbolicamente no livro da história da família de Adão.   Pois, Daniel estudou o seu contexto geopolítico e sócio-histórico, Jared (Imp. Macedônico).

   Note que, no livro Apocalipse, o Anjo de Jesus previu a emergência e simbolizou simultaneamente tanto a grande rede global de mercados macrorregionais Lamec III (a “1ª fera”), com ênfase. Isto é, que iniciaria nesse contexto sócio-histórico da passagem do sistema feudal na Europa (representado no Dragão: grande poder do clero paulinista), por meio das viagens ultramarinas e a formação de grandes impérios coloniais. Como também, o Grande Mercado pós-diluviano e suas sete escalas de expansão, que simbolizou resumidamente, na figura das “sete cabeças”. Cujos dez chifres com os respectivos “diademas” (símbolo de poder e riqueza), o Anjo de Jesus recorreu à teoria criada por Daniel relativa aos dez “chifres” (a média de dez reinos), que na passagem de um escala expansiva para a seguinte, então, disputam entre si a hegemonia na escala que se inicia. Os nomes “blasfematórios” em cada “cabeça” (cada grande império hegemônico que gerencia a respectiva escala expansiva). Os nomes “blasfematórios” são os nomes de cada grande império hegemônico em cada uma das sete escalas ou “sete cabeças”: 1º. Set ‒ Novo Imp. egípcio; 2º. Enos ‒ Imp. Assírio; Cainan ‒ Imp. Babilônico caldeu; Malaleel ‒ Imp. Persa, etc.:

   “Vi, então, levantar-se do mar uma fera que tinha dez chifres e sete cabeças; sobre os chifres, dez diademas, e nas suas cabeças nomes de blasfematórios” (Ap 13,  1).

   O Anjo de Jesus também previu e simbolizou a emergência do modo de produção capitalista como a “2ª fera”, e ainda a emergência da “imagem da 1ª fera” (perverso sistema monetário e financeiro autônomo) (cf. Ap 13, 11-16). Note que, essa “imagem da 1ª fera” consiste em outro modo de se referir ao mesmo modelo de uma mesma coisa, isto é, a “Abominação da desolação” citada por Daniel (cf. Dn 9, 27-b; 12, 11). Pois, o Jesus histórico já havia se referido a ela, ao respaldar Daniel, que foi o primeiro a focalizá-la (cf. Mt 24, 15).

1.4.2. A abominação da desolação no lugar santo.

   Note, o Jesus histórico nomeou esse sistema de abominação da desolação, ao respaldar a previsão feita anteriormente pelo profeta Daniel.

   Pois, quando alguns dos principais discípulos de Jesus o indagaram: “Quando será o sinal de tua volta e do fim dos tempos?” (Mt 24, 3-c), então, ele respondeu:

   “Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9, 27) − o leitor entenda bem − então os habitantes da Judeia fujam para as montanhas… porque então a tribulação será tão grande como nunca foi vista, desde o começo do mundo até o presente, nem jamais será…” (Mt 24, 15, 21). 

   Jesus previu, por outro aspecto, que a sua volta aconteceria no contexto da Abominação da desolação. Ou seja, o perverso sistema monetário e financeiro análogo ao que foi instalado na Judéia pelo rei Antíoco IV Epífanes, rei selêucida do Império Macedônico. Sistema esse que ainda vigorava por ocasião do contexto em que o profeta Daniel viveu. O qual previu a volta desse sistema, na ocasião da segunda vinda do Senhor Escolhido do Criador (cf. Dn 9, 27-b; 12, 11-b).

   Jesus esclareceu que a sua volta ocorreria, mais precisamente, quando a “abominação da desolação” (perverso modelo de sistema monetário e financeiro análogo ao dos reis macedônios) alcançasse o status do seu pleno e mais complexo desenvolvimento. Nesse status, ela ocuparia, então, indevidamente, o “lugar santo“. Isto é, a “abominação da desolação” dominaria e seria adorada por toda a humanidade, então, globalizada, mas já adentrando no estágio Noé de depressão econômica acompanhada de crises políticas. Lugar santo esse que deveria ser ocupado pelo Criador, isto é, o Trabalho Cósmico Social, pois é ele que cria valor. Vamos ao texto em apreço:

   “Quando virdes estabelecida no lugar santo a abominação da desolação que foi predita pelo profeta Daniel (9, 27; 12, 11-b) – o leitor entenda bem – então os habitantes da Judéia fujam para as montanhas… Porque então a tribulação será tão grande como nunca foi vista… Então se alguém vos disser: Eis aqui está o Cristo! ou: Ei-lo acolá! Não creiais. Porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas, que farão milagres a ponto de seduzir, se isto fosse possível, até mesmo os escolhidos… Porque como o relâmpago parte do Oriente e ilumina até o Ocidente, Assim será a volta do Filho do Homem” (Mt 24, 15-16, 21-a, 23-24, 27).

   Veremos tudo isso com mais detalhes, em outro lugar. Primeiramente é oportuno notar, que o início (décadas 70-80 do século passado) da fase depressiva prolongada, grave, generalizada e irreversível da grande rede global de mercados macrorregionais Lamec III foi notado e demonstrado por David Harvey. O qual caracterizou essa fase, pelo surgimento do novo modo flexível de produção e de acumulação de capital, em substituição ao modelo fordista, e pelas perversas implicações desse novo modo de acumulação:[5]

   “A profunda recessão de 1973 (…) retirou o mundo capitalista (…) da estagnação da produção de bens e alta inflação de preços e pôs em movimento um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista. Em consequência, as décadas 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e de reajuste social e político… No espaço social criado por todas essas oscilações e incertezas, uma série de novas experiências nos domínios da organização industrial e da vida social começou a tomar forma. Essas experiências podem representar os primeiros ímpetos da passagem para um regime de acumulação inteiramente novo, associado a um sistema de regulamentação política e social bem distinta. A acumulação flexível, como vou chamá-la, é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado ‘setor de serviços’, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas…”

   Harvey prossegue esclarecendo, que o novo modelo flexível de produção e de acumulação de capital desenvolveu, também, perversos meios mais ágeis e eficazes tanto de controle, de exploração e desemprego sobre os segmentos trabalhadores, como de controle sobre os sindicatos. Meios mais ágeis e eficazes esses que Harvey chama de compressão do espaço-tempo“, e que é caracterizado por dois aspectos. Por um aspecto, pelo aprimoramento e estreitamento do agrupamento operatório, que é exercido e que articula no mundo capitalista, as tomadas de decisões privada e pública. Por outro aspecto, tais meios, possibilitam a difusão e operação dessas decisões, sobre um espaço mais abrangente e variado. Voltemos a Harvey: [6]

   “Ela [acumulação flexível] também envolve um novo movimento que chamarei de ‘compressão do espaço-tempo’ (…) no mundo capitalista − os horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitaram, enquanto a comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusão imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variegado. Esses poderes aumentados de flexibilidade e mobilidade permitem que os empregadores exerçam pressões mais fortes de controle do trabalho sobre uma força de trabalho (…), força que viu o desemprego aumentar nos países avançados (…) para níveis sem precedentes no pós-guerra. O trabalho organizado foi solapado pela reconstrução de focos de acumulação flexível em regiões que careciam de tradições industrial anteriores e pela reimportação para os centros mais antigos das normas e práticas regressivas estabelecidas nessas novas áreas”.

   Há outra importante característica dessa fase que Harvey focaliza e que eu correlaciono com a era “Noé” de grave, prolongada e irreversível depressão socioeconômica e política da grande rede global de mercados macrorregionais Lamec III. Essa importante característica consiste, também, no pleno desenvolvimento e complexidade daquilo que Jesus nomeou, por um aspecto, e como já vimos, abominação da desolação no lugar santo e, por outro aspecto, de “Imagem da 1ª fera” (cf. Ap 13, 14).

   Na perspectiva da abominação da desolação no lugar santo, o sistema monetário e financeiro alcançaria o status do seu pleno e mais complexo desenvolvimento e limite. Quer dizer, ele atingiria o status de sistema monetário e financeiro “desregulamentado”, ou melhor, autônomo e unificado globalmente. Nesse status, a “abominação da desolação” ocuparia, então, o “lugar santo“: dominaria e seria adorada por toda a humanidade, então, globalizada.

    Na outra perspectiva, o Mestre focaliza o sistema monetário e financeiro “desregulamentado”, ou melhor, autônomo e unificado globalmente, mas como a “Imagem da 1ª fera” (cf. Ap 13, 14-18). Isto é, imagem da fera que subiu do mar, quer dizer, a imagem da grande rede global de mercados macrorregionais Lamec III, que se desenvolveu por volta de 1500 d.C. Precisamos antes de tudo, pesquisar e entender o significado do signo “imagem“, no contexto em que o Mestre o empregou, para compreendermos o sentido da expressão “imagem da 1ª fera”. Podemos adiantar que a noção de “imagem”, neste caso, encerra a noção de “equivalência” (em valor de troca), em relação à grande rede global de mercados macrorregionais.

   O referido sistema monetário só atingiria seu pleno desenvolvimento, nas décadas 70-80 do século passado conforme David Harvey demonstrou a respeito do processo de formação do sistema monetário e financeiro “desregulamentado” (autônomo) e articulado globalmente:[7] Vejamos esse autor:

   O segundo desenvolvimento… foi a completa reorganização do sistema financeiro global e a emergência de poderes imensamente ampliados de coordenação financeira. Mais uma vez houve um movimento dual; de um lado, para a formação de conglomerados e corretores financeiros de extraordinário poder global; e, do outro, uma rápida proliferação e descentralização de atividades e fluxos financeiros por meio da criação de instrumentos e mercados financeiros totalmente inéditos. Nos Estados Unidos isso significou a desregulamentação de um sistema financeiro rigorosamente controlado desde as reformas dos anos 30. O Relatório da Comissão Hunt norte-americana, de 1971, foi a primeira admissão explícita da necessidade de reforma como condições de sobrevivência e expansão do sistema econômico capitalista. Depois dos traumas de 1973, a pressão pela desregulamentação nas finanças adquiriu impulso nos anos 70 e, por volta de 1986, engolfou todos os centros financeiros do mundo… A desregulamentação e a inovação financeiro… tinham se tornado, na época, um requisito para a sobrevivência de todo centro financeiro mundial num sistema global altamente integrado, coordenado pelas telecomunicações instantâneas. A formação de um mercado de ações global, de mercados futuros de mercadorias (e até de dívidas) globais, de acordos de compensação recíproca de taxas de juros e moeda, ao lado, ao lodo da acelerada mobilidade geográfica de fundos, significou, pela primeira vez, a criação de um único mercado mundial de dinheiro e de crédito“.

1.4.3. Sistema monetário e financeiro: a “Imagem da 1ª fera

   Vejamos o sistema monetário e financeiro como a “Imagem da 1ª fera” (cf. Ap 13, 14-18). Nesta perspectiva, o Mestre focaliza o sistema monetário e financeiro “desregulamentado”, ou melhor, autônomo e unificado globalmente, mas como a “Imagem da 1ª fera“. Isto é, imagem da fera que subiu do mar (cf. Ap 13, 1-19), quer dizer, a imagem da grande rede global de mercados macrorregionais, que começou a se desenvolveu por volta de 1500 d.C., por meio das viagens ultramarinas e a formação de grandes impérios coloniais.

   Precisamos, antes de tudo, pesquisar e entender o significado do signo “imagem“, no contexto em que o Mestre o empregou, para compreendermos o sentido da expressão “imagem da 1ª fera”. Nesta abordagem (Imagem da 1ª fera), o Mestre traçou paralelo entre duas noções. De um lado, segundo a perspectiva simples, isto é, microeconômica, a expressão simples da forma dinheiro do valor relativo a uma mercadoria e, do outro lado, segundo a perspectiva macroeconômica, a expressão complexa da forma monetária e financeira global do valor relativo à grande rede global de mercados macrorregionais.

   A expressão simples da forma dinheiro do valor relativo a uma mercadoria (perspectiva simples ou microeconômica). O Mestre conhecia e focalizou, conforme demonstraremos mais adiante, aquilo que Marx titulou de “forma dinheiro do valor”:[8]

   “A expressão simples e relativa do valor de uma mercadoria, por exemplo, o linho, através de uma mercadoria que já esteja exercendo a função de mercadoria-dinheiro, por exemplo, o ouro, é a forma preço do linho: 20 metros de linho = 2 onças de ouro ou, se, em linguagem monetária, 2 libras esterlinas for o nome de 2 onças de ouro, então, 20 metros de linho =  2 libras esterlinas”.

   O termo “imagem” significa, na perspectiva macroeconômica, a noção de “equivalência em valor“, do “sistema monetário e financeiro desregulamentado e unificado globalmente”, com relação à “grande rede global de mercados macrorregionais”, isto é, em relação à “1ª fera, a que subia do mar”.

   Nos termos indicados acima, a expressão simbólica “imagem da fera” explica o significado da instituição coletiva, a que se refere. Instituição social monetária e financeira desregulamentada, isto é, autônoma, e unificada globalmente, que desenvolveu, assim, a poderosa capacidade de “Falar“, ou seja, ditar normas, regras, conhecimentos, etc. Vamos analisar a “imagem da fera” mais de perto, segundo o método genético aplicado na realidade sócio-histórica. Ou seja, vamos ver a sua gênese, nos termos expostos pelo Mestre, no Apocalipse.

1.4.3.1. Gênese da “2ª fera: modo capitalista de produção

   Vejamos a gênese da “2ª fera, a que sobe da terra” (modo capitalista de produção), no contexto da “1ª fera” (grande rede global de mercados). Das relações sociais de produção material (“terra”) se desenvolveu a “2ª fera”, isto é, o modo capitalista de produção, e respectiva instituição social autônoma. A qual apresenta “dois aspectos que nela se relacionam e se destacam” ou “dois chifres”. Por um aspecto (um “chifre”), ele é detido pelo capital privado, à burguesia; por outro aspecto (o outro “chifre”), ele é detido pelo Estado, ou melhor, pelo corpo burocrático do estado. Cuja cultura que ele desenvolve é de natureza autoritária, e ideológica no sentido de falseada. Cultura essa semelhante à cultura religiosa católica, que acompanhava o modo feudal de produção e respectivo modelo feudal de formação social, e que o Mestre simbolizara, anteriormente, na figura do grande Dragão (cf. Ap 12, 3+). Por essa perspectiva, o Mestre disse, sempre de modo resumido:

   “Vi, então, outra fera subir da terra. Tinha dois chifres como um cordeiro, mas falava como um dragão” (Ap 13, 11).

   O “modo de produção capitalista” é instituição coletiva autônoma, que se desenvolveu, e passou a exercer a mesma grande dimensão do poder, que a “grande rede global de mercados macrorregionais já exercia” (a 1ª fera, isto é, a que subiu do mar, cf. Ap 13, 1+). A qual contribuiu e no seio da qual se desenvolveu o modo capitalista de produção, enquanto baseado no “trabalho assalariado”, que é mercadoria. Cujos produtos além de estarem inseridos e condicionados pela referida grande rede global, também estão voltados para ela. Portanto, o grande poder detido pelo modo capitalista de produção, pode ser entendido por dois aspectos.

   Por um aspecto, o grande poder do modo capitalista de produção somente pode ocorrer “diante” ou “sob a vigilância” e condicionado pela grande rede global de mercados macrorregionais.

   Por outro aspecto, o grande poder do modo capitalista de produção fez com que referida grande rede reforçasse o seu poder de “dominação e de ser, assim, adorada por toda a humanidade, então, globalizada. Ser adorada por meio de vários fatores: 1. A “sua” (modo capitalista de produção) produção em massa de mercadorias, cada vez mais complexas e fascinantes; 2. O enorme capital que ele gera; 3. A modalidade de conhecimento (científico e técnico) e respectivos instrumentos que ele também gera, etc. Tudo isso voltado para a referida grande rede global de mercados macrorregionais Lamec III. Nessa direção, o Anjo do Senhor disse, sempre de modo econômico:

   “Ela [a 2ª fera: modo capitalista de produção] exercia todo o poder da primeira fera, sob a vigilância desta, e fez com que a terra e os seus habitantes adorassem a primeira fera” (Ap 13, 12-a).

1.4.3.2. A gênese da “imagem da 1ª fera”: sistema monetário e financeiro

   A gênese da “imagem da 1ª fera” (sistema monetário e financeiro global autônomo) foi favorecida pelo grande volume de capital gerado pela “2ª fera” (modo capitalista de produção). Pois, a “imagem da 1ª fera” (sistema monetário e financeiro) foi criada, inicialmente, por meio da enorme capacidade do processo de produção capitalista (2ª fera, a que subiu da terra e tinha dois chifres) gerar imenso capital, conhecimento científico e técnico, máquinas e instrumentos diversos geniais e fascinantes (o fascínio das mercadoreas).

   Porém, a enorme capacidade de processo de produção gerar capital e ele próprio, posteriormente passaram a ser abocanhados e controlados pelo capital financeiro. Nessa direção, Burns esclarece que o modo de produção capitalista foi o principal contribuidor, em razão da sua enorme capacidade de gerar capital, do desenvolvimento do sistema monetário e financeiro, a partir da Segunda revolução industrial:[9]

   “Durante a Segunda revolução industrial, especialmente depois de 1890, o capitalismo industrial foi em grande parte sobrepujado pelo capitalismo financeiro, um dos desenvolvimentos mais decisivos da época moderna: O capitalismo financeiro tem quatro características principais: 1) o domínio da indústria pelos bancos de investimentos e pelas companhias de seguro; 2) a formação de imensas acumulações de capital; 3) a separação entre a propriedade e a direção, pois, antes disso, os rotulados de “capitães de indústria” reuniam sobre so seu controle tanto a propriedade como a direção da fábrica, a exemplo de Henry Ford; e 4) o aparecimento dos holdings ou companhias detentoras”.

   A partir das décadas 70-80, o modo de produção capitalista foi o principal contribuidor, em razão da sua enorme capacidade de gerar capital, do sistema monetário e financeiro atingir o seu limite de expansão e complexidade. Ou seja, desenvolver “desregulamentação” (autonomia), unificação e articulação globalmente, conforme Harvey demonstrou.

1.4.3.3. Trabalho humano com o sinal “mercadoria”

   Trabalho humano com o sinal “mercadoria”, seja trabalho material (sinal na mão destra), seja intelectual (sinal na fronte ou testa). Hoje, toda pessoa que exerce qualquer forma de atividade profissional é mercadoria. Pois, cada indivíduo que quiser adquirir ou vender força de trabalho, seja material, seja intelectual, e também as outras mercadorias ou serviços, irrecusavelmente precisa se inserir e adorar o sistema financeiro e monetário global. Senão, tal pessoa se encontraria “morta” (alienada do mercado), isto é, estaria impedida tanto de vender como de comprar mercadorias.

   Do modo indicado acima, o sistema financeiro e monetário global molda a conduta de cada indivíduo, com o sinal ou marca de mera mercadoria (valor de troca). Mercadoria é o nome fundamental da “fera”. Ou seja, da grande rede global de mercados macrorregionais Lamec III, a qual determina o valor de cada mercadoria, por meio da oferta e procura. Pois, vimos que o Anjo de Jesus simbolizou, por um aspecto, na figura da “1ª fera, a que sobe do mar”, precisamente essa grande rede global. Assim, cada pessoa só pode “viver” no mercado de trabalho, de serviços, de produtos, etc., carregando em si, o sinal ou marca de mera mercadoria. Seja pessoa grande ou pequena, seja rica ou pobre, livre ou escrava, exerça “trabalho material” (sinal na mão destra) ou intelectual (sinal na fronte). Em outros termos, nesse contexto, “ninguém pode comprar ou vender sua força de trabalho, se não fosse marcado com o nome “Mercadoria”. Essa é a perspectiva do Mestre, que disse:

   “Foi-lhe [o processo de produção capitalista ou a 2ª fera, a que subiu da terra] dado, também, comunicar espírito à imagem da fera [imagem da fera: sistema monetário e financeiro global], de modo que essa imagem se pusesse a falar, e fizesse com que fosse morto todo aquele que não se prostrasse diante dela. Conseguiu que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, tivessem um sinal na mão direita e na fronte, e que ninguém pudesse comprar ou vender, se não fosse marcado com o nome da fera ou o número do seu nome” (Ap 13, 15-17).

O sistema monetário e financeiro desenvolveu espírito 

   O modo de produção capitalista consistiu, ao longo dos séculos, em importante fator, para a “imagem da fera” (sistema monetário e financeiro) desenvolver “espírito próprio” e operar, autonomamente, com conhecimentos científicos e técnicos e respectivos produtos e serviços, notadamente a comunicação via satélite, cabos, internet, prodigiosas invenções a exemplo da inteligência artificial, etc. Os quais foram gerados pelo “processo de produção capitalista” (2ª fera, a que sobe da terra). Através desses e outros meios (computador enquanto inteligência artificial, etc.), a “imagem da 1ª fera” opera, também, artificialmente, sobretudo uma rede enorme, complexa e muito bem qualificada de inteligências naturais (humanas). Isto é, os cérebros de todos que trabalham, no mundo todo, para ela e sob o controle dela. Focalizaremos com mais detalhes o espírito da “imagem da 1ª fera”, mais adiante.

1.4.3.4. Espírito, atividade intelecto-social ou “intelecto geral” (Marx) da “imagem da 1ª fera” ou abominação da desolação”

   O Mestre considera que a ascensão plena do sistema monetário e financeiro autônomo e unificado globalmente − que ocorreria a partir das décadas 70-80 do século passado −então, assim este sistema desenvolveria “espírito“. Quer dizer, desenvolver consciência e diligência próprias em razão das necessidades do seu funcionamento, de acordo com o tipo de racionalização do espírito do capitalismo, e assim ditando e impondo normas de conduta, enfim, operando sobre a sociedade. Nesse sentido, o Ajo de Jesus informou ao João Evangelista, e este registrou no livro Apocalipse:

   “Foi-lhe [o processo de produção capitalista ou a 2ª fera, a que subiu da terra] dado, também, comunicar espírito à imagem da fera [“imagem da fera”: sistema monetário e financeiro global], de modo que essa imagem se pusesse a falar” (Ap 13, 15-a).

   Não devemos estranhar a afirmação feita pelo Anjo de Jesus, que a instituição coletiva “modo capitalista de produção” (a “2ª fera, a que sobe da terra”) tenha comunicado “espírito” à outra instituição coletiva. Ou seja, ao “sistema monetário e financeiro autônomo e unificado globalmente” (imagem da 1ª fera). Note que, sobretudo a grande instituição coletiva humana autônoma e unificada mundialmente em tela (imagem da 1ª fera ou abominação da desolação: o sistema monetário e financeiro) utiliza, de modo autônomo, artificial e centralizado, amplas e complexas redes constituídas de inteligências naturais, isto é, humanas. Muitas delas seletivamente capacitadas. Além de utilizar, também, outros meios de produção (aparelhos mecânicos, eletrônicos, satélites, etc.). Tudo isso gerados pelo modo de produção capitalista e respectiva instituição social (a “2ª fera, a que sobe da terra”)  . Desse modo, o que o Mestre nomeia, no trecho em tela, de “espírito“, e atribui à “imagem da 1ª fera”, chamo de “atividade intelecto-social de direção“, e pode ser pensado como a noção desenvolvida por Marx de “intelecto geral”.

   Já havíamos focalizado a noção de “atividade intelecto-social de direção” em outra obra.[10] Esse fenômeno sócio-histórico já era conhecido por alguns dos grandes profetas individuais [Moisés (cf. Gn 3, 23-24); Isaías (cf. Is 6, 1-9); Ezequiel (cf. Ez 1+); e Jesus (cf. Ap 6, 6-b-8)]. Ezequiel o descreveu de modo mais detalhado, conforme veremos em breve.

   Jesus acrescentou como novidade, que a “imagem da 1ª fera” (sistema monetário e financeiro autônomo e unificado globalmente) também desenvolveria “espírito”, “atividade intelecto-social de direção” ou “intelecto geral” (Marx), o que dá no mesmo.

   A noção de “atividade intelecto social de direção” pode ser pensada como aquilo que Marx chama de “intelecto geral“, conforme a Wikipédia esclarece:[11]

   “Intelecto geral (em inglês, general intellect) é uma expressão criada por Karl Marx para designar a dimensão coletiva e social da atividade intelectual quando esta é fonte de produção de riqueza. A expressão aparece nos Grundrisse, no chamado fragmento das máquinas, como sendo uma crucial força produtiva, cuja importância é evidenciada pela crescente importância da maquinaria – entendida como o poder do conhecimento objetivado – no controle dos processos da vida social. Intelecto geral seria, portanto uma combinação de expertise tecnológica e intelecto social ou conhecimento social geral ou, ainda, um cérebro social que é, ao mesmo tempo, uma força produtiva e um princípio de organização dos cidadãos”.

   Neste ponto do esclarecimento, a Wikipédia cita Marx:

   “A Natureza não constrói máquinas, locomotivas, ferrovias, telégrafos, máquinas de fiar automáticas etc. Esses são produtos da indústria humana: material natural transformado em órgãos da vontade humana sobre a natureza ou da participação humana na natureza. São órgãos do cérebro humano, criados pela mão humana: o poder do conhecimento objetivado. O desenvolvimento do capital fixo indica até que ponto o conhecimento social geral se tornou uma força produtiva imediata, e, portanto, até que ponto as condições do processo da própria vida social estão sob controle do intelecto geral e são transformadas de acordo com ele. Até que ponto as forças produtivas sociais foram geradas, não só sob forma de conhecimento, mas também como órgãos imediatos da prática social, do processo da vida real. — Karl Marx. Grundrisse, 1858.2″.

   A Wikipédia prossegue esclarecendo acerca da noção marxista de “intelecto geral”:

   “Em uma sociedade capitalista, o desenvolvimento do general intellect manifesta-se, segundo Marx, no controle dos processos da vida social. Segundo algumas interpretações, com a ideia do general intellect, Marx designa uma radical mudança na subsunção da força de trabalho ao capital, indicando a instauração de um terceiro estágio da divisão do trabalho”.

   Vimos que a “imagem da 1ª fera” (sistema monetário e financeiro autônomo e unificado globalmente) também desenvolvera “espírito”. Ou seja, “atividade intelecto-social de direção” ou “intelecto geral” (Marx). As quatro principais grandes instituições coletivas relativamente autônomas já operavam de modo semelhante: direção ideológica; direção política; direção da produção; e direção do mercado. Elas já operavam como atividades intelectos-sociais, conforme veremos mais pra frete: a atividade intelecto-social de operação ou direção ideológica; a atividade intelecto-social operatória política; a atividade intelecto-social operatória da produção; e a atividade intelecto-social operatória do mercado. E mais, elas se articulavam entre si em agrupamento operatório reversível.


[1] Braudel, F. História e Ciências Sociais – 1. A longa Duração, p. 9-10, 14. Editorial Presença, tradução de Rui Nazaré, Lisboa, 1990. https://blogdorosuca.files.wordpress.com/2011/04/braudel-fernand-a-longa-durac3a7c3a3o-in-histc3b3ria-e-cic3aancias-sociais.pdf “A história tradicional, atenta ao tempo breve, ao indivíduo, ao evento, habituou-se há muito tempo à sua narrativa precipitada, dramática, de fôlego curto. A nova história econômica e social põe no primeiro plano de sua pesquisa a oscilação cíclica e assenta sobre sua duração: prendeu-se à miragem, também a realidade das subidas e descidas cíclicas dos preços. Bem além desse segundo recitativo, situa-se uma história de respiração mais contida ainda, e, desta vez, de amplitude secular: a história de longa e mesmo, de longuíssima duração (o grifo é nosso) [p.  9- 10]. …Além dos ciclos e interciclos há o que os economistas chamam, sem estudá-la, sempre, a tendência secular. Mas ela ainda interessa a raros economistas e suas considerações sobre crises estruturais, não tendo sofrido a prova das verificações históricas se apresentam como esboços ou hipóteses, apenas enterrado no passado recente (…) Entretanto, oferecem útil introdução à história de longa duração. São uma primeira chave. A segunda, bem mais útil, é a palavra estrutura. Boa ou má, ela domina os problemas da longa duração. Por estrutura, os observadores do social entendem, uma organização, uma coerência, relações bastantes fixas entre realidades e massas sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura é sem dúvida, articulação, arquitetura, porém mais ainda, uma realidade que o tempo utiliza mal e veicula mui longamente. Certas estruturas, por viverem muito tempo, tornam-se elementos estáveis de uma infinidade de gerações: atravancam a história, incomodando-a, portanto, comandando-lhe o escoamento”

[2] Cf. Machado, F. A. Teoria da História – Do grande mercado global pré-diluviano ao grande mercado global contemporâneo, RJ, 2010, p. 246-255; 62-77.

[3] Explicação na 3ª parte (Zacarias e os quatro carro) em “3 PARTES de Grandes profetas individuais identificaram as 7 escalas do G. Merc. Pós-diluviano”: https://tribodossantos.com.br/2025/09/3-partes-de-grandes-profetas-individuais-identificaram-as-7-escalas-do-g-merc-pos-diluviano/

[4] Lévêque, Pierre. As Primeiras Civilizações, Volume I − Os Impérios do Bronze, p. 191.

[5] Harvey, D. Condição pós-moderna – Uma Pesquisa sobre as Origens da Mudança Cultural, SP, 1992, p. 140.

[6] Harvey, D. Condição pós-moderna – Uma Pesquisa sobre as Origens da Mudança Cultural, SP, 1992, p. 140-141.

[7] Harvey, D. Condição Pós-moderna – Uma Pesquisa sobre as Origens da Mudança cultural. SP, 1992, p. 152.

[8] Marx, Karl. O Capital, Tomo 1, Capítulo 1 – A Mercadoria, capítulo 4: “Como o dinheiro se transforma em capital”, Seção 3, D – Forma Dinheiro do Valor, RJ, 1968, p. 171-173. Veja também em http://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/vol1cap01.htm#c1s3D

[9] Burns, E. M. História da Civilização Ocidental, Porto Alegre, 1973, p. 681.

[10] Machado, F. A. O Dilúvio– Na realidade sócio-histórica pré e pós-diluviana interpretada pela cronologia da teoria da genealogia de Adão – LINHA DO TEMPO, RJ, 2010, p. 64-67.

[11] Wikipédia. Karl Marx. Grundrisse, 1858.2: Intelecto geral: https://pt.wikipedia.org/wiki/Intelecto_geral