(TEXTO) 3. Kardecismo: racismo espírita e eugenia na classe media brasileira (trabalho intelectual)

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Algo de podre e invertido vem acontecendo no mundo dos espíritos: espíritos opressores, racistas, hipócritas e perversos são considerados espíritos de luz; espíritos dos oprimidos, explorados e exterminados impiedosamente são demonizados e considerados espíritos da trevas.

A repressão exercida pela casta portuga descendente e seus padres, na realidades reproduziu, no campo da cultura espírita, a mesma injusta e perversa hierarquia e estratificação social da divisão social do trabalho material e intelectual, que eles criaram e instalaram na nação brasileira. Ou seja, de um lado, os supostos “espíritos de luz” e os fundadores do racismo kardecista representam pessoas que exercem ou supostamente exerceram trabalhos intelectuais, e do outro lado, as entidades do espiritismo de matriz africana, representam, em geral, pessoas que exerceram trabalhos materiais (pretos e pretas velhas, boiadeiros, caboclos, “baianos” (entidades espirituais de povos nordestinos), etc. Ou entidades espirituais de pessoas que estavam, de alguma forma, desempregados ou sem trabalho (Zé Malandrinho, Zé Pilintra, Pomba Gira, etc.).

Por um aspecto, os sacerdotes fundadores das correntes kardecistas brasileiras, na verdade são, evidentemente, pessoas brancas, da classe média portuga descendente, que exerciam trabalhos intelectuais, e que selecionaram seus ditos “espíritos de luz”, entre os tipos sociais (médicos, sacerdotes, educadores, oficiais militares, etc.) da sua classe. Por exemplo: o médico Dr. Bezerra de Menezes; Frei Luiz; freira Joanna Angélica (Joanna de Ângelis). etc. Ou tipo imaginário da classe média (médicos militares: Dr Adolfo Fritz; Dr. Frederick Von Stein), que seriam originários de nações onde o protestantismo e o kardecismo racistas e eugenistas surgiram. Lá, o kardecismo foi esquecido, em razão da sua inconsistência e característica obtusa, mas o protestantismo continuou proliferando.[1]

É oportuno observar, que o tipo “Dr. Adolpf Fritz” – cuja pronúncia soa próxima e lembra “Adolf Hitler” – é imaginado como um suposto médico do exército alemão, caridoso, ruivo e de olhos muito azuis – note, segundo Kardec: o tipo branco é bonito; o tipo negro é feio -, que teria morrido na época da Primeira Grande Guerra (1014-1918). Esse tipo paira, como santo, no imaginário de determinados segmentos da população brasileira, notadamente na cidade Rosário do Sul – RS. Onde a cultura da casta portuga descendente e o positivismo tiveram forte influência.[2] O suposto Dr. Frederick Von Stein segue a mesma linha de imaginação racista e eugenista. Ele teria sido um médico que supostamente pertencera ao exército da Alemanha nazista de Adolf Hitler, por ocasião da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945).[3]

Não é por mera coincidência, que médicos da classe média tanto brasileira como alemã são endeusados no racismo kardecista brasileiro. Pois, Precisamente no Brasil foi onde se desenvolveu, fora da Alemanha, o maior partido nazista de Adolf Hitler.[4] Note que Hitler favoreceu a classe médica alemã constituída de arianos, em detrimento do grande número de médicos judeus alemães.[5] Note, ainda, que a classe médica alemã estava entre os muitos seguimentos sociais, que apreciaram e ajudaram a ascensão de Hitler na Alemanha.[6]

É oportuno lembrar, que o Sul do país foi tomado por populações oriundas do processo eugenista e racista de “embranquecimento” (higienização) e “europeização” (extermínio dos índios e roubo das sua terras). Processo esse planejado e iniciado por D. Pedro II, o rei filósofo-racista-eugenista, que foi influenciado pelo seu tutor, José Bonifácio de Andrada e Silva. O rei filósofo-racista-eugenista vivia mais na Europa que no Brasil, e de lá enviou muitos emigrantes de diversas nações, para o Brasil, como forma de concretizar o projeto seu e de José Bonifácio de Andrada e Silva.

O projeto do rei filósofo-racista-eugenista tinha como finalidade, também, não deixar terras para as populações negras e mestiça, que naquela ocasião cresciam, enquanto os portugas descendentes iam exterminando os índios e roubando-lhes as terras. Muitos dos imigrantes europeus trouxeram consigo o ranço racista e eugenista, próprios da cultura de origem. Muitos deles foram cooptados e assimilaram os perversos valores da casta portuga descendente (racista, escravagista, católica, positivista). Assim, formou-se, no Brasil, um paralelo opressor sobre negros, índios, mestiços e brancos pobres: a aliança entre a casta portuga descendente, e, a casta eugenista oriunda da Europa. Essa aliança pode ser chamada, também, de “Brasil Paralelo”.

No Brasil da casta portuga descendente racista, o kardecismo encontrou solo fértil para proliferar, e os atuais líderes e seguidores do kardecismo seguem, conscientemente ou não, a mesma linha racista e eugenista de Allan kardec. Junto com os evangélicos e protestantes igualmente racistas, a população que se diz kardecista também vem crescendo, segundo os últimos dados estatísticos do IBGE.[7]

3.1. Espiritismo de matriz africana como entrave cultural entre segmentos que exercem trabalhos materiais

Por outro aspecto, sacerdotes de outras correntes espiritualistas (umbanda, quimbanda, candomblé caboclo, etc.) embora muitos deles sejam originários de povos negros africanos e da cultura afro-brasileira, no entanto selecionaram, de modo depreciativo e discriminatório, tipos sociais que exerciam trabalhos materiais, mas com características culturais alheias à realidade opressora e sofredora em que viviam. Pois, os sacerdotes da cultura de matriz africana selecionaram, precisamente, tipos sociais trabalhadores subordinados, escravizados, discriminados e explorados perversamente, pelos perversos segmentos dominantes da casta portuga descendente. Além atribuir características culturais alienadas à realidade opressora e sofredora em que viviam, os sacerdotes da cultura de matriz africana, atribuíram às entidades com que vêm trabalhando, mais propensão a fazer algum tipo de mal, embora também o bem, além de associá-los com coisas (cachaça, cigarro, charuto, etc.), que os padres procuravam denegrir.

Porém, os tipos que indiquei acima, na verdade são apresentados, de modo folclórico e fantasioso, e com pessoas alienadas à realidade opressora e sofredora em que viviam.[8] Desse modo folclórico, alienado e fantasioso, os referidos sacerdotes afro-descendentes selecionaram e vêm apresentando tipos sociais: o escravo negro (preto velho); o índio (boiadeiro, caboclo) cuja população foi escravizada e quase completamente exterminada; o desempregados de natureza mestiça ou negra, que tentavam sobreviver, malandramente, de alguma forma (Zé Malandrinho, Zé Pilintra; Pomba Gira (prostituta); cigana, etc. Ao que parece, esses sacerdotes afro-descendentes estavam interessados tanto em resistir com suas identidades culturais, mas sobretudo preservar prestigio e o recebimento de dádivas e oferendas dos seus seguidores.

Tais sacerdotes afro-brasileiros não selecionaram, deliberada e discriminatoriamente, como entidades espirituais, para baixarem em seus terreiros, nenhum dos inúmeros tipos sociais populares de trabalhadores revolucionários. Por exemplo: Ganga Zumba, Zumbi do Palmares; Manuel Congo, Mariana Crioula (Revolta de Paty de Alferes); Antônio Conselheiro e outros bravos nordestinos; Ahuna, Pacífico e Manoel Calafate (Revolta dos Malês). Eles não selecionaram, deliberada e discriminatoriamente, também líderes de povos que lutaram em defesa das suas terras e culturas, por exemplo: Aimberê, Pindobuçu e Cunhambebe (líderes da Confederação dos Tamoios); os índios que lideraram a Confederação dos Cariris, etc.

Ora, no campo do Estado, a “nova catequese” (sistema de Ensino oficial publico o privado), esses tipos de personagens revolucionária da histórica nacional são apresentados pela perspectivas do vencedor, isto é a casta portuga descendente, e também de modo mistificado. O campo da sociedade civil é mais flexível, ao exemplo do campo religioso, em que acontecem a umbanda, quimbanda, catimbó, os candomblés de caboclo, etc. Esse campo é mais propício para a resistência cultural da cultura afro-descendente e mesmo indígena.

Tão pouco baixam nos terreiros de macumba, os tipos perversos de bandeirante e de fazendeiro que oprimiam e exterminavam sobretudo índios, mas escravizavam e combatiam, desumanamente, os negros revoltados. Os hipócritas e perversos padres, monges, frades e freiras católicos que dirigiam as malditas catequeses, os governadores etc., também não baixam nos terreiro de macumba, que fosse ao menos fazer as maldades, que vêm fazendo a mais de quinhentos anos. Alguns desses tipos (frei Luiz, freira Joanna Angélica, etc.) são apresentados, entretanto, como “espíritos de luz” no espiritismo racista do kardecismo.

Confirma-se, assim, que algo de podre e invertido vem acontecendo, portanto, no mundo dos espíritos: espíritos opressores, racistas, hipócritas e perversos são considerados espíritos de luz; espíritos dos oprimidos, explorados e exterminados impiedosamente são demonizados e considerados espíritos da trevas.

Pode-se entender, que têm a mesma causa, e que estão, de certa forma, intimamente interligados. De um lado, a formação do tipo branco de sacerdote das denominações kardecistas de origem racista e eugenista, e do seu “mundo dos espíritos”. E do outro lado, o tipo afro-brasileiro de sacerdote das outras denominações espiritualista (umbanda, quimbanda, etc.), que depreciam os segmentos que exercem trabalho material, e discriminam os tipos de negros, mestiços e índios revolucionários brasileiros. Por exemplo, descriminam Ganga Zumba, Zumbi do Palmares; Antônio Conselheiro; Aimberê, Pindobuçu e Cunhambebe (líderes da Confederação dos Tamoios).

A casta portuga descendente exerceu, durante muito tempo, forte opressão física, jurídica, social e “cultural” (catequese católica).[9] Desse modo, essa casta favoreceu, de modo intencional e diligentemente, a produção das “duas formas” (tanto o kardecismo racista como as religiões de matriz africana, como entrave alienante) de ideologia e alienação cultural, na identidade cultural da nação brasileira, e como meio da moldagem de conduta individual e de controle social.

Ao se formarem as classes médias portuga descendentes, estas dispunham de mais liberdade, e da possibilidade de surgirem, no seio dessas classes, sacerdotes dispostos a desenvolver o eugenismo Kardecista. Pois, a casta portuga descendente vem tolerando isso, à medida que o tipo espiritualista de eugenia kardecista santifica o tipo branco de intelectual da sua classe média, que é a classe média portuga descendente. Esse tipo de espiritismo racista fundado no paulinismo vem atuando, analogamente, como atuam as religiões evangélicas e protestantes (Igreja Universal, etc.), igualmente fundadas na perspectiva do racismo e do paulinismo. Protestantismo racista esse que vem desde a corrente puritana de Calvino, notadamente na sua “doutrina da predestinação”.[10]

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[1] Cf. Wikipédia – Dr. Fritz: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dr._Fritz

[2] Wikipédia – Rosário do Sul: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ros%C3%A1rio_do_Sul

[3] Cf. Wikipédia – Frederick Von Stein: https://pt.wikipedia.org/wiki/Frederick_Von_Stein

[4] Cf. publicação em Gazeta do Povo – Curitiba. Artigo de Pollianna Milan, 23/09/2011: “Brasil teve o maior partido nazista fora da Alemanha”. Estima-se que existiram 2,9 mil filiados ao partido em 17 estados brasileiros, inclusive o Paraná… Assim como na Alemanha, o partido nazista brasileiro pregava a superioridade de certas raças… explica o historiador Rafael Athaides, que acaba de lançar o livro O partido nazista no Paraná (Editora UEM). http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/brasil-teve-o-maior-partido-nazista-fora-da-alemanha-cf8zq3aco0zap6q9928osdzym

[5] Enciclopédia do Holocausto, Artigo: Legislação Anti-Semita na Alemanha antes da Guerra: https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005681

[6] Cf. CIFRAS . Por Luís Amorim em 21 de fevereiro de 2017 – Fonte: Listverse Logo Listverse is a Trademark of Listverse Ltd. Copyright (c) 2007–2017 Listverse Ltd All Rights Reserved. Artigo: “5 principais razões pelas quais o povo alemão elegeu Adolf Hitler”: “Os nazistas também iniciaram uma organização apoiando os médicos alemães, ajudando-os a aceitar empregos de judeus. Prometeram afastar os judeus e manter os alemães trabalhando – e muitos alemães os apreciaram”: https://acrediteounao.com/razoes-povo-alemao-elegeu-adolf-hitler/

[7] Cf. IBGE: Distribuição percentual da população residente, por religião – Brasil – 1991/2010. Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1991/2000/2010: http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-povo/caracteristicas-da-populacao.html

[8] Cf. Espiritualidade e Umbanda: http://espiritualidadeeumbanda.blogspot.com.br/2013/06/os-boiadeiros-na-umbanda.html

[9] Cf. Decreto nº 847, de 11/out/ 1890: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-503086-publicacaooriginal-1-pe.html Cf. notícia publicada por EBC. Empresa Brasil de Comunicação S/A – EBC, em 19/08/2017: Rio quer fazer exposição com imagens de religiões afro apreendidas pela polícia: http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2017-08/rio-quer-fazer-exposicao-com-imagens-de-religioes-afro-apreendidas-pela

[10] Doutrina da predestinação: Cf. no blog Exhibir el Racismo (explicar o racismo), cujo Editor responsável é César Carrillo Trueba, da Faculdade de Ciências, Universidade Nacional Autônoma do México artigo, o artigo “2.1. El sustrato protestante del racismo” publicado na revista Las Mentiras del Racismo, em 13/01/2016: https://lasmentirasdelracismo.wordpress.com/2016/01/13/2-1-el-sustrato-protestante-del-racismo/?blogsub=confirming#subscribe-blog Mais Doutrina da predestinação: Cf. Weber, M. A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo, p. 71, 73, 75, 85.