Comparação entre a árvore da vida e a do bem e do mal; os querubins

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 Livro: Teoria da História (Art. 21, 2.2.10., p. 140-148) www.tribodossantos.com.br

    Vimos anteriormente (Art. 16), que o símbolo árvore representa, por um aspecto, o papel social (planta) peculiar ao intelectual, e por outro aspecto, representa o campo subjetivo e motivador próprio desse tipo de papel social.[1] O “fruto” é produzido, ou seja, ele é motivado pela “árvore” (campo subjetivo do intelectual). Ele é produzido ou motivado “segundo a sua espécie”, e “contém a sua semente”. Assim, o fruto (que contém implícita ou ocultamente sua semente) representa tanto o respectivo campo objetivo (ação social, omissão, etc.) da “árvore” (intelectual) como o complexo meio de reprodução social do intelectual.[2]

    Nas duas acepções de “fruto” acima indicas, falta-nos distinguir o sentido metafórico, por um lado, da parte do fruto que contém a semente (o aspecto esteticamente agradável da forma exterior do fruto, e, a sua polpa adocicada), e por outro lado, o da semente, isto é, o órgão propriamente reprodutor da árvore, o qual se encontra dissimulado naquela parte. Com essas distinções e nosso entendimento a respeito delas, adentramos na teoria da reprodução social da conduta individual.

    Temos que fazer algumas considerações pertinentes aos dois tipos ideais de “árvores” (intelectuais). De um lado, o tipo ou “espécie” “vida”: conjunto complexo de conduta positivamente integrado ou unificado, caracterizado por ser autoclarificado, e dotado de consciência social crítica e transformadora, voltado para propiciar o modelo de formação social justa, horizontal, fraterna e igualitária. De outro lado, a “espécie” “ciência do bem e do mal”: conjunto complexo de conduta negativamente integrado, hipócrita ou dualista, caracterizado por ser autoconsciente, autodiligente e dotado da capacidade de produzir e instalar múltiplas e multiformes divisões e oposições, voltada para criar ou conservar o modelo de formação social injusta, violenta e hierarquizada, e para posicionar-se entre os estratos sociais médios e superiores.

    Consideramos que os dois tipos de “árvores” (intelectuais) acima apontados apresentam peculiaridades diametralmente distintas entre si, com relação aos seus respectivos “frutos”. “Frutos” estes concebidos tanto por campo objetivo como por “forma de reprodução social”. Peculiaridades distintas tanto com relação às metáforas concernentes, por um lado, ao aspecto estético exterior do fruto, e, a sua polpa adocicada, e por outro lado, à semente que esse aspecto exterior e essa polpa do fruto contêm. Esses dois lados são pertinentes às destacadas características do campo objetivo ou “fruto”: o discurso (linguagem oral ou escrita); gestos ou movimentos expressivos; interesses materiais do intelectual, isto é, atuar no sentido de institucionalizar ou reproduzir sua forma material de existência, e condizente formação social.

    A “espécie” “vida” de “árvore” (intelectual) tem o seu campo subjetivo sob a predominância de sentimentos de ordem amorosa e valores altruísticos. Deste modo, os demais fatores subjetivos (cognição, volição e intencionalidade) são condicionados. Assim, o campo subjetivo dessa modalidade de intelectual motiva o seu campo objetivo ou “fruto”. Na acepção de campo objetivo (do intelectual da espécie “árvore da vida”), o “fruto” apresenta, por conseguinte, características de fraternidade e altruísmo. Em outros temos, pela natureza do “fruto” se conhece a natureza do tipo de “árvore” que o produziu ou motivou. Resumindo: “pelos frutos se conhece a árvore” (Jesus: cf. Mt 3, 10; 7, 16, 20) ) ou “ações sociais são indícios subjetivamente motivados” (Weber).

    As características relevantes do campo objetivo ou “fruto” da “árvore” (da vida: o intelectual e respectivo campo subjetivo) são: o discurso é sofisticadamente elaborado, mas não de modo falseado, ele é, sim, verdadeiro; apresenta respectivos gestos ou movimentos que expressam significados; sua forma material de existência, isto é, seus interesses materiais de ordem pessoal e coletiva são voltados, notadamente, em favor da justiça social, fraternidade, pacifismo e igualitarismo. Sobre essas características relevantes, a Teoria da História aplica algumas metáforas. Uma dessas metáforas concerne à forma exterior aparentemente agradável e respectiva polpa adocicada. As quais exercem a função de persuadir e induzir o observador, levando-o a crer que o “fruto é bom para ser comido”. E, que tal fruto é, também, mui apropriado para abrir a inteligência (do observador). A outra dessas metáforas aplicadas sobre as características relevantes em questão refere-se ao fruto, que se apresenta do modo acima indicado. Trata-se do fato dele conter ou implicar no âmago do órgão propriamente reprodutor (da árvore), ou seja, trata-se do fruto conter a semente.

    O tipo vida de intelectual (árvore) apresenta o discurso e respectivos gestos ou movimentos simbólicos elaborados sofisticadamente. Mas, eles são, intencionais e objetivamente verdadeiros, nas suas formas estéticas aparentemente agradáveis. Formas estas que exercem a função de persuadir e induzir o observador, levando-o a crer que estas e demais manifestações pertinentes à conduta objetiva ou “fruto” da “árvore” (intelectual) são boas ou saudáveis, para serem “comidas” (assimiladas, ou melhor, entendidas, aceitas e praticadas). O discurso (do intelectual ou “árvore” da “vida”) é verdadeiro, no sentido dele e demais manifestações pertinentes à conduta objetiva serem efetivamente boas e saudáveis para serem assimilados. Posto que, tanto o discurso como as demais manifestações estão plena e positivamente integradas ao respectivo campo subjetivo e motivador. Ou seja, este campo do intelectual se encontra, efetivamente, sob a predominância de sentimentos de ordem amorosa. Assim, ele condiciona os demais fatores subjetivos. E, o campo subjetivo assim articulado internamente motiva o discurso e demais manifestações pertinentes ao campo objetivo, como os gestos ou movimentos que expressam significados (ações simbólicas, etc.). Ele motiva, ainda, os interesses objetivos, ou seja, a forma material de existência (Justiça social, fraternidade, etc.) que valoriza e visa aplicar tanto para sua pessoa como para a coletividade. Forma material esta que se apresenta notadamente de modo igualitário, fraterno, justo e pacifista.

    Enfim, o discurso e ações simbólicas são efetivamente fraternos e altruísticos, e não dissimulam o interior subjetivo, mas mostra-se integrado, plena e positivamente, a este campo. E, não dissimula sua forma material de existência, mas mostra-a procurando conviver igualitariamente. É no contexto do conjunto complexo de conduta individual integrado, positivamente, que o Mestre fala, repetidamente, a respeito da noção de verdade. Por exemplo, (Jo 4, 21-24) Jesus respondeu à mulher samaritana:

    “Acredita-me, mulher, vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade”.

    O discurso do intelectual tipo ”vida” se distingue do discurso do intelectual tipo “ciência do bem e do mal” ou tipo “morte” (alienação). Tal distinção ocorre, precisamente, porque este tipo de intelectual apresenta tanto o seu discurso como as demais manifestações pertinentes ao campo objetivo, de modo negativamente integrado ao seu campo subjetivo e motivador. Ou seja, este campo da conduta individual do intelectual tipo ideólogo (da ciência do bem e do mal) se encontra sob a predominância de sentimentos de ordem odiosa e valores egoísticos, e assim são condicionados os demais fatores subjetivos. Desse modo, o campo subjetivo motiva uma forma falseada de discurso e de encenações (gestos ou movimentos que expressam significados). Ele motiva, também, a forma material de existência que valoriza e visa aplicar, tanto na sua pessoa como na coletividade. Forma esta que se apresenta, notadamente, com características de privilégios pessoais, ambição de poder, dominação ideológica e exploração econômica sobre outras pessoas, especificamente sobre as de senso comum (erva). A forma material de existência do intelectual tipo ciência do bem e do mal   implica em gerar a divisão social do trabalho material e intelectual, na qual os ideólogos ocupam parte dos estratos médios ou superiores, e os indivíduos de senso comum ocupam a base social.

    Tanto a “árvore da vida” como a “árvore da ciência do bem e do mal” atuam, diligentemente, no sentido da reprodução social das suas respectivas modalidades de conjunto complexo de conduta, sobre os indivíduos do gênero senso comum (“ervas”). E, elas disputam entre si a moldagem das condutas dos indivíduos deste gênero. Exemplos do discurso verdade e do discurso falseado e do embate entre eles se apresentam nos Evangelhos de Mateus e de João. Consultem esses evangelhos e verão fartos ensinamentos de Jesus e os embates de ideias entre este (árvore da vida) e os ideólogos fariseus, escribas e saduceus (árvore da ciência do bem e do mal),

    A assimilação do discurso verdade e dos respectivos gestos e movimentos que expressam significados, e mais a forma material de existência igualitária compõem uma condição mui apropriada para abrir a inteligência daquele que assimila. Pois, a assimilação da conduta objetiva (“fruto”) do ideólogo tipo árvore da vida, propicia ao indivíduo desenvolver “vida”, isto é, autoconhecimento de sua condição de sujeito estruturado, segundo a noção de conjunto complexo de conduta individual. Propicia desenvolver, também, capacidade de autodiligência e consciência social crítica e transformadora, voltada para promover o modelo de formação social justa, fraterna, pacifista e igualitária. A “assimilação” (entendimento, adoção e prática) do modo de conduta peculiar à “árvore da vida”, a exemplo do Jesus Histórico, consiste não numa práxis utilitária e alienada, mas sim verdadeiramente revolucionária, isto é, justa, fraterna, pacifista e igualitária. Este é o âmbito da vida que o Mestre denomina “reino dos céus”, e que ele dá o exemplo vivo e o oferece aos demais indivíduos, a fim de libertá-los do domínio exercido pelos ideólogos. Pois, o “reino dos céus” significa o reino do conhecimento, ou melhor, da práxis verdade.

   A árvore da vida” apresenta, a exemplo de Jesus, uma forma revolucionária de conjunto complexo de conduta individual, sempre que emerge na sócio-história transcorrida em tempo muito longo. Pois, ela houvera perdido a relativa hegemonia que detivera, na era do “jardim do Éden” (formação social simples de caráter comunal), para a “árvore da ciência do bem e do mal”.
Nas raras vezes (cíclicas) que o Trabalho Natura-Social faz emergir a “árvore da vida” na sócio-história, ela atua no sentido de combater e desmascarar a “árvore da ciência do bem e do mal”, e libertar os indivíduos do jugo que esta “árvore” os mantêm. Ela perdera essa hegemonia, à medida que o ideólogo-feiticeiro (“árvore da ciência do bem e do mal” que é, também, concebido como “serpente”) houvera conseguido induzir mulheres agricultoras a assimilarem do “fruto” (conduta objetiva) dessa “árvore”. Assim, os primeiros estratos sociais e respectiva divisão social do trabalho material e intelectual se desenvolveram e se institucionalizaram: em primeiro lugar, grupos de sacerdotisas ocuparam os estratos sociais superiores (Período Matriarcal); Em seguida, grupos de sacerdotes se formaram e submeteram as sacerdotisas e demais segmentos sociais (Período Patriarcal). Durante esse processo, primeiro as sacerdotisas e em seguida os sacerdotes seduziram e cooptaram as lideranças políticas e econômicas.
Do modo indicado acima, por um lado, o Senhor Deus (Trabalho Natura-social) expulsou o homem do jardim do Eden, e por outro, teve começo a formação gradual dos quatro “querubins” (Cf. Gn 3, 24), isto é, as quatro principais atividades intelectos-sociais de direção ou operação, articulados entre si em agrupamento operatório: direção ideológica, direção política, direção da produção e direção da circulação. E, as respectivas “rodas” (grupos sociais) que as exercem. Agrupamento operatório este que se apresentava, nessa fase, de modo ainda relativamente indiferenciado.

    Desde a formação dos “querubins”, estes se incumbiram de exercer sistemática coerção de natureza física e ideológica, sobre os indivíduos. Nos quais, tais querubins percebessem indícios da manifestação da emergência do papel social do tipo “vida” de “árvore”. Assim, os “querubins” vêm interditando aos indivíduos a possibilidade de acessar o caminho da “árvore da vida”, o qual leva ao modelo de formação social de caráter comunal, simples, fraterno e pacifista (jardim do Éden):

   “O Senhor Deus expulsou-os do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra donde tinha sido tirado. E expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do Éden Querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida“. (Gn 3, 23-24)

    O indivíduo de senso comum pode assimilar (entender, concordar e praticar) o “fruto” (conduta objetiva: discurso verdade, respectivos gestos e movimentos simbólicos e a forma material de existência igualitária), e a concernente “semente” da “árvore” (intelectual) tipo “vida”. Ao assimilar tal fruto, o indivíduo de senso comum reproduz, em si, a modalidade “vida” de “árvore” (intelectual e respectivo campo subjetivo de conduta). Ou seja, ele desenvolve em seu campo subjetivo a predominância de sentimentos de ordem amorosa, valores altruísticos e cognição, propósitos e volição assim condicionados. O fator cognitivo se apresenta, notadamente, segundo a perspectiva sintética e linha lógica de raciocínio complexa.

    A “semente” é produzida, isto é, motivada por uma “árvore” (intelectual) com a intenção de reproduzir, no indivíduo de senso comum (erva), outra “árvore” semelhante a si. A metáfora da semente representa a noção de implicação, pertinente ao “fruto” (campo objetivo da conduta individual do intelectual), em sua totalidade. Ou seja, a expressão linguística (falada ou escrita) da intenção imaginada e elaborada pelo intelectual (discurso), a respectiva expressão pantomímica (gestos e movimentos dotados de significados), e a forma material de existência e subsistência da “árvore” (intelectual). “Fruto” este “produzido” (motivado) por uma “árvore” (intelectual e respectivo campo subjetivo de conduta), com a intenção de reproduzir, conscientemente, num indivíduo de senso comum, outra “árvore” semelhante a si. O fruto implica ou contém a “semente”, isto é, a possibilidade de reproduzir outra “árvore” semelhante a si. Pois, ele é intencionalmente produzido (motivado) por uma “árvore’ (intelectual e respectivo campo subjetivo) com esse objetivo. Enfim, a “árvore” direciona o seu “fruto” ao indivíduo de senso comum (erva), visando induzi-lo a assimilar tal “fruto”, para reproduzir neste (erva) gênero de “planta” (papel social), uma “árvore” semelhante àquela que gerou o “fruto”.

[1]Cf.: http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/03/as-estruturas-das-plantas-papeis.html

[2] . Cf. Art. 20: http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/03/reproducao-social-da-conduta-da-arvore.html