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O ideólogo (“árvore”: sacerdote, filósofo, cientificista, etc.) atua como “álter ego” ou “encosto” em sua vítima (“erva”: indivíduo de senso comum) ( (Art. 36, 9.4.;9.5., p 215-221). www.tribodossantos.blogspot.com.br
Livro O Templo: http://tribodossantos.com.br/pdf/O%20Templo%20-%20introdu%C3%A7%C3%A3o.pdf
Toda produção ideológica (religiosa, filosófica, política, econômica, cientificista, etc.) é falseada. Mas, quando o ideólogo seduz o indivíduo, induzindo-o tanto a acreditar (fé) nesse ideólogo como na ideologia que este procura inculcar no processo do pensamento desse nosso indivíduo, então, duas situações podem ocorrem.
Em primeiro lugar, por um aspecto, no indivíduo ocorre “introjeção” (mecanismo psicológico, pelo qual um indivíduo, inconscientemente, incorpora e passa a considerar como seus objetos, características alheias e valores de outrem, que nesse caso trata-se do ideólogo).[1] Em outros termos, o ideólogo se estabelece como “álter ego” (psicanálise: o outro eu inconsciente) na psique do indivíduo. Poderíamos empregar, com algumas reservas, terminologia espírita, e considerarmos o ideólogo sedutor como um “encosto”, não enquanto um espírito incorporado em um ser vivo, mas como um ideólogo vivo que seduz e induz, ideologicamente, a conduta do indivíduo, que nele acredita. Por outro aspecto, o conteúdo elaborado na ideologia, instrui e produz o respectivo efeito de realidade, na conduta do indivíduo. Assim, a vítima fica encadeada ou presa não somente pelo que a ideologia instrui, mas também pelo encosto, isto é, o ideólogo sedutor (padre, pastor protestante ou evangélico, filósofo, cientista, pai ou mãe de santo, etc.).
9.5. O tipo inútil de indivíduo que procura ideologias confortáveis.
Em segundo lugar, em muitos casos, a “vítima” acima citada consiste, entretanto, naquele tipo de indivíduo citado pelo Filho do Homem, na parábola dos talentos. Indivíduo este que recebeu de Deus um talento e o enterrou, a exemplo da maioria tanto dos sacerdotes como das ovelhas-robôs pseudocristãs: sem iniciativa e conservador (cf. Mt 25, 24); sendo medroso, recalcou a prática dos seus “talentos” revolucionários (cf. Mt 25, 25); estava motivado por valores “em mau estado”, e sentimentos de ordem odiosa, e ainda se conduzia com preguiça mental e física (seguindo o caminho cômodo, mas estrito, que produz representações caóticas acerca da realidade) (cf. Mt 25, 26); indivíduo inútil, segundo as expectativas voltadas para a justiça social, que Deus e o Filho do Homem esperavam dele (cf. Mt 25, 30). Indivíduo este que ao prestar contas ao seu senhor. Este avaliou, condenou e exclamou: “a este servo inútil, jogai-o nas trevas exteriores: ali haverá choro e ranger de dentes”.
O tipo de indivíduo que enterra o talento, que Deus lhe agraciou, procura ideólogos e as ideologias destes, para se dissimular diante de Iahweh, Deus do amor ao próximo e da justiça social. Ou seja, para se abrigar de exame de consciência, e adotar uma ideologia cômoda e aconchegante. Pois, é preguiçoso mental, sem iniciativa, covarde, inútil, etc. Falta-lhe disposição para enfrentar as adversidades e atender ao clamor de Deus e de Jesus por justiça social. Os grandes profetas reservavam, para as ideologias (e respectivos sacerdotes), simbolismos mais adequados que cadeia ou prisão, em relação aos indivíduos do tipo inútil, que procuravam essas ideologias e ideólogos: “cavernas dos rochedos” (Is), “esconderijos”, “cavidade dos rochedos” (Jr), “montanhas ou colinas nas quais as pessoas se cobrem” (Os). Peter Berger emprega um rótulo assemelhado a esses empregados pelos profetas em tela, para se referir as ideologias e aos respectivos ideólogos, que o indivíduo procura para se submeter e esconder seu talento: “trevas”; “cavernas quentes, razoavelmente confortáveis”. Berger aborda esse tema, ao comentar o conceito heideggeriano do Man:[2]
O Man nos possibilita viver inautenticamente, fechando as questões metafísicas colocadas por nossa existência. Estamos cercados de trevas por todos os lados enquanto nos precipitamos pelo curto período de vida em direção à morte inevitável. A terrível pergunta ‘por que?’, que quase todo homem faz num momento ou outro ao tomar consciência de sua condição, é rapidamente sufocada pelas respostas convencionais da sociedade. A sociedade nos oferece sistemas religiosos e rituais, que nos livram de tal exame de consciência. O ‘mundo aceito sem discussão’, o mundo social que nos diz que tudo está bem, constitui a localização de nossa inautenticidade (…) A sociedade nos oferece cavernas quentes, razoavelmente confortáveis, onde podemos nos aconchegar a outros homens, batendo os tambores que encobrem os uivos das hienas na escuridão. ‘Êxtase’ é o ato de sair da caverna, sozinho, e contemplar a noite (os grifos em negrito são nossos)”.
Vejamos alguns dos grandes profetas individuais e os respectivos trechos, nos quais eles rotulam as ideologias e respectivos ideólogos, pelo ponto de vista do indivíduo inútil:
“A sua terra está cheia de ídolos; os homens se prosternam diante da obra de suas mãos, diante daquilo que seus dedos fabricaram. Os mortais serão abatidos e o homem será humilhado; vós não lhes perdoareis de maneira nenhuma. Refugiai-vos nos rochedos, escondei-vos debaixo da terra (…) A pretensão dos mortais será humilhada, o orgulho dos homens será abatido. Só o Senhor será exaltado naquele tempo, e todos os ídolos desaparecerão. Refugiai-vos nas cavernas dos rochedos, e nos antros da terra (…) Naquele tempo, o homem lançará aos ratos e aos morcegos os ídolos de prata e os ídolos de ouro, que para si tinha feito a fim de os adorar; refugiar-se-á nas cavernas dos rochedos e nas fendas da pedreira, por causa do espanto da presença do Senhor, e do esplendor de sua majestade, quando ele se levantar para aterrorizar a terra. Cessai de confiar no homem, cuja vida se prende a um fôlego: como se pode estimá-lo? (os grifos em negrito são nosso)” (Is 2, 8-10-a, 17-19-a, 20-22);
“Aos gritos de: Cavaleiros! Arqueiros! Toda terra desandou em fuga. Lançaram-se nos esconderijos e galgaram rochedos… (os grifos em negrito são nossos)” (Jr 4, 29-a);
“O terror… o orgulho do teu coração enganou-te, a ti, que habitas nas cavidades dos rochedos, e que ocupas o cume das colinas. Ainda que colocasses teu ninho tão alto quanto o da águia, de lá te precipitaria – oráculo do Senhor (os grifos em negrito são nossos)”. (Jr 49, 16).
[1]. Ferreira, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa: “introjeção”.
[2] . Berger, P. Perspectivas Sociológicas, p. 156, 158.