HISTÓRIA EM TEMPO MUITO LONGO e a “Tribo dos Santos – O nascimento de Noé e a parousia na genealogia de Adão”

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Livro:  Teoria da História (Art. 3, Intr., p. 18-22) www.tribodossantos.com.br

    O autor da Teoria da História subdividiu-a em duas grandes parte: Sistematização Teórica e Verificação Empírica . A Teoria da Genealogia de Adão está inserida na Verificação Empírica, e compreende tanto a segunda e conclusiva parte do “6° dia da criação” como todo o “7° dia da criação”.
O tema do texto para teatro “Tribo dos Santos”[1] fundamenta-se em determinados pontos da Teoria da História, registrado no livro Gênese, sobretudo no trecho que trata da Genealogia de Adão (Cf. Gn 4, 25-5, 31). Daremos algumas explicações acerca desses pontos, inclusive da teoria da “genealogia de Adão”. Desse modo, objetivamos propiciar ao leitor um entendimento mais preciso acerca do referido tema, e como a sócio-história vem se desenrolando, segundo a perspectiva do tempo muito longo ou longuíssimo.

      O texto “A genealogia de Adão” encerra uma teoria de natureza econômica e sócio-histórica, que é representado de modo alegórico, hermético e resumido. A genealogia de Adão que nos referimos, por ora, consiste no segundo Adão (Cf. Gn 4, 25-5, 31), cujos sucessores são: Set, Enos, Cainan, Malaleel, Jared, Henoc, Matusalém, Lamec, Noé e seus três “filhos” Sem Cam e Jafet. Focalizaremos essa teoria em nosso livro “Teoria da História”.[2] Ela consiste numa determinada sucessão genealógica, empregada como metáfora de sucessivas etapas sócio-históricas. Etapas estas transcorridas segundo a noção de história de longuíssima duração, conforme Fernand Braudel ensina que tem como fio condutor desdobramentos de estruturas sociais permanentes. Concebemos que esses desdobramentos estruturais correspondem às tais etapas sócio-históricas representadas, metaforicamente, na sucessão genealógica de Adão. Vejamos Fernand Braudel ensinando acerca da história de longuíssima duração, acerca dos ciclos históricos e acerca das estruturas permanentes:

    “A história tradicional, atenta ao tempo breve, ao indivíduo, ao evento, habituou-se há muito tempo à sua narrativa precipitada, dramática, de fôlego curto. A nova história econômica e social põe no primeiro plano de sua pesquisa a oscilação cíclica e assenta sobre sua duração: prendeu-se à miragem, também a realidade das subidas e descidas cíclicas dos preços (…) Bem além desse segundo recitativo, situa-se uma história de respiração mais contida ainda, e, desta vez, de amplitude secular: a história de longa e mesmo, de longuíssima duração (o grifo é nosso). …Além dos ciclos e interciclos há o que os economistas chamam, sem estudá-la, sempre, a tendência secular. Mas ela ainda interessa a raros economistas e suas considerações sobre crises estruturais, não tendo sofrido a prova das verificações históricas se apresentam como esboços ou hipóteses, apenas enterrado no passado recente (…) Entretanto, oferecem útil introdução à história de longa duração. São uma primeira chave. A segunda, bem mais útil, é a palavra estrutura. Boa ou má, ela domina os problemas da longa duração. Por estrutura, os observadores do social entendem, uma organização, uma coerência, relações bastantes fixas entre realidades e massas sociais. Para nós, historiadores, uma estrutura é sem dúvida, articulação, arquitetura, porém mais ainda, uma realidade que o tempo utiliza mal e veicula mui longamente. Certas estruturas, por viverem muito tempo, tornam-se elementos estáveis de uma infinidade de gerações: atravancam a história, incomodando-a, portanto, comandando-lhe o escoamento”[3].

        A realidade histórica que serviu como objeto de observação e reflexão, para que determinados antigos pensadores houvessem abstraído tal teoria, foi o longo processo sócio-histórico e econômico, em que passaram as civilizações do Antigo Egito, da Mesopotâmia e outras que lhes eram contemporâneas. Cujo período corresponde à era chamada pré-diluviana (4000 a 1580 a.C.).

    Os pensadores que elaboraram a referida teoria foram, certamente, antiquíssimos profetas. Estes emergiram àquela época em determinadas localizações e contextos sociais, que favorecem ao surgimento da categoria de pensamento de natureza sintética e da respectiva produção de conhecimento que lhes são singulares, que os teólogos modernos chamam, simploriamente, de profecia e escatologia. Categoria de pensamento e respectiva produção de conhecimentos análoga àquelas que se apresentaram nos grandes profetas individuais hebreus. Fato este que nos faz concluir que tanto aqueles antiquíssimos profetas como também os profetas hebreus se situaram em localizações sociais análogas, que estes últimos chamavam de Sião. Isto favoreceu aos grandes profetas individuais hebreus entenderem, decifrarem e aplicarem a teoria elaborada por seus predecessores, e para tudo isso empregavam o método de comparação tipológica. Procedimento metodológico este que nós aplicamos, também, no presente trabalho.

    É oportuno observarmos que a referida categoria de pensamento surge, ciclicamente, em determinado momento sócio-histórico. Ela surge, desenvolve-se, e é encerrada quando emerge o Profeta Maior, a exemplo do Jesus Histórico. Neste caso, o Mestre operou com a Teoria da História já elaborada por seus predecessores, aplicando-a como método de interpretação e de intervenção na realidade sócio-histórica. Na qual ele se encontrava inserido. Desse modo, ele determinou o rumo específico que tomariam, em tempo longuíssimo, os desdobramentos sócio-históricos subsequentes. E, ainda, deixou registrado, de modo hermeticamente codificado, através de um dos seus discípulos (João), as características desses desdobramentos, no livro Apocalipse. A Teoria da História foi, portanto, o resultado, segundo a perspectiva de um determinado tipo de localização social (sião), de um determinado processo de produção do conhecimento, para o qual muitos profetas menores e dois Profetas Maiores contribuíram. Mas, ela fora sistematizada, certamente de modo gradativo. Isto ocorrera em dois distintos e remotos contextos sócio-históricos e respectivas épocas, conforme o próprio Mestre revelara ao João Evangelista (AP 11, 4-8):

   “Estas são as duas oliveiras e os dois candelabros que estão diante do Senhor da terra. Caso alguém queira prejudicá-las, sai de sua boca fogo que devora seus inimigos; sim, se alguém pretendesse prejudicá-las, é desse modo que deveria morrer. Elas têm o poder de fechar o céu para que não caia nenhuma chuva durante os dias de sua missão profética. Têm ainda, o poder de transformar as águas em sangue e de ferir a terra com todo tipo de flagelos, quantas vezes o quiserem. Quando terminarem seu testemunho, a Besta que sobe do abismo combaterá contra ela, vencê-las-á e as matará. Seus cadáveres ficarão expostos na Grande Cidade que se chama simbolicamente Sodoma e Egito, onde também o Senhor delas foi crucificado (grifo é nosso)”.  

   Vejamos mais detalhadamente os dois contextos sócio-históricos acima indicados, nos quais o Senhor, Mestre, Profeta Maior e Escolhido do Deus Criador emergira e fora crucificado. Em primeiro lugar, isto ocorrera no Antigo Egito, quando o Profeta Maior lá emergiu, na “sexta escala imperial de expansão do grande mercado pré-diluviano”: a Sexta Dinastia Egípcia, isto é, o segundo Henoc (Cf. Gn 5, 18-24) pré-diluviano. Esse Profeta Maior desempenha, entre outras, a função de sistematizar a categoria do pensamento desenvolvida pelos profetas menores, os quais lhe precederam. E, desempenha, ainda, a função de aplicar essa teoria sistemática, como meio de interpretação e de intervenção sobre o seu contexto sócio-histórico. Em segundo lugar, o Profeta Maior emergira e fora crucificado em Sodoma, na fase Noé de regressão do “grande mercado global” isto é, o segundo Lamec pré-diluviano (Cf. Gn 6, 9). Onde este segundo Profeta Maior sistematizara e aplicara, como instrumento de interpretação e de intervenção sobre o seu contexto sócio-histórico, as produções de conhecimentos elaboradas pelos profetas menores que lhe precederam. Embora muitos profetas tenham contribuído para a produção da Teoria da História, sempre que nos referirmos à sua autoria, o faremos no singular.

[1]

http://tribodossantos.com.br/pdf/Teoria%20da%20Hist%C3%B3ria%20-%20introdu%C3%A7%C3%A3o.pdf

[2] Idem.

[3] Braudel, F. História e Ciências Sociais – A longa Duração, p. 44, 49. Extraído de “Annales E. S. C., nº 4, out.-dez.1958, Débats et Combats, pp. 725-753”. Cf. Lévi-Strauss, C. respaldando Braudel: “A história dos historiadores não precisa de que a defendam, mas tão pouco é atacá-la dizer (como admite M. Braudel) que ao lado de um tempo curto, existe um tempo longo; que certos fatos pertencem a um tempo estatístico e irreversível, outros, a um tempo mecânico e reversível: e que a ideia de uma história estrutural não tem nada que possa chocar os historiadores”. Veja Lévi-straus, em Lésson inaugurale, proferida no Collège de France, publicada em seu Annuaire (1960), trad. de Maria Nazaré Lins Soares, citado por Guimarães, A. Z. (org.), em Desvendando Máscaras Sociais, p. 211.