Os filhos de Jabel, os filhos de Jubal e os filhos de Tubal-Caim

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Livro: Teoria da História (Art. 29, 2.7.9., p. 211-213) www.tribodossantos.com.br  

   É importante entendermos bem o sentido do termo “pai”, que relaciona, respectivamente, de um lado (pai), Jabel, Jubal e Tubal-Caim, e de outro lado (filhos), “os que vivem em tendas e têm rebanhos”, “todos os que tocam lira e charamela” e “todos os laminadores em cobre e em ferro”. Pois, nestes casos, o termo “pai” não expressa a noção contida na relação genealógica de “filiação” (vínculo que a geração cria entre os filhos e seus genitores). Mas, recebe, por conotação, a noção de inclusão. Neste sentido, a corporação profissional é concebida como entidade coletiva. A qual é representada, simbolicamente, na figura de um “pai” em relação aos seus “filhos”. Ou seja, ela inclui ou congrega todos os profissionais de um mesmo ramo de negócio ou atividade, os quais lhes são afiliados. Desse modo, podemos esclarecer os significados das representações figuradas na paternidade de Jabel e seus filhos, de Jubal e seus filhos, e de Tubal-Caim e seus filhos.

    As corporações constituídas de mercadores (Jubal) incluem (= “pai”), como seus afiliados ou membros, todos os diferentes profissionais do mesmo ramo de negócio, ou seja, do comércio (e os auxiliares destes). O autor representou a noção de “um conjunto de membros profissionais do ramo de comércio”, na figura de uma caravana comercial: “os que vivem em tendas e têm rebanhos”. Essa figura era muito comum e familiar às pessoas daquela época e região, assim como a embarcação mercantil. Neste sentido, Aymard e Auboyer esclarecem:[1]

    “… a partir do III milênio os comerciantes de Biblos estabeleceram relações desta ordem com o Egito e, no II milênio, Ugarit torna-se um verdadeiro entreposto do mundo egeu. Em terra não praticavam diretamente o transporte caravaneiro; mas situavam-se no término de numerosas rotas (o grifo é nosso) e são suficientemente hábeis para manterem-se em bons termos com os sírios e hebreus. Dedicam-se ao comércio marítimo, tirando partido da posição de seus portos…

   Assim, “Jabel” (corporação de mercadores) é concebido como “pai”, isto é, ele congrega “todos que vivem em tendas e têm rebanhos” (todos os profissionais do ramo de mercado).

    No sentido inverso, a relação entre as corporações profissionais e seus afiliados ou membros pode ser considerada, na pessoa dos últimos, como uma relação de pertinência. Desse modo, o autor considera que: A) “os” (os indivíduos profissionais) “que vivem em tendas e têm rebanhos” (do comércio caravaneiro) – segundo suas diferentes funções neste ramo de negócio – são membros das corporações de mercadores (Jabel); B) “Todos” (os indivíduos profissionais) “que tocam lira e charamela” (que produzem cultura ou “arte”) – segundo suas diferentes funções – são membros das respectivas corporações ou instituições culturais (Jubal), sejam da natureza religiosa, filosófica, etc.; C) “Todos” (os indivíduos profissionais) “laminadores em cobre e ferro” (que extraem minerais e produzem derivados desta matéria prima) – segundo suas respectivas especialidades – são membros das corporações de mineradores, e, de manufatureiros que produzem derivados de minerais (Tubal-Caim).

    A noção de filiação de um profissional com relação à respectiva corporação era usual, entre os antigos hebreus (Ne 3, 6-a, 8):[2]

   “Quanto à porta do bairro Novo, Joiada, filho de Fasea, e Masalam, filho de Besodias, restauraram (…) Junto deles, restaurou Oziel, membro da corporação dos ourives, e, mais além, restaurou Hananias, da corporação dos perfumistas (o grifo é nosso): eles reforçaram Jerusalém até à muralha larga”.

[1] Aymard, A. e Auboyer, História Geral das Civilizações, Tomo I, 2º Volume, p. 36-37.

[2] O professor Emanuel Bouzon ensinava que “um conjunto de narrações do ciclo Eliseu trata de Eliseu entre os profetas. Os ‘profetas’ do ciclo de Eliseu são denominados com o termo técnico be nê hann eb’ îm. A expressão hebraica ben ou benê designa, principalmente no período pós-exílico, o membro de uma corporação, (cfr. Ne 3,8.31: bem-haraq-qahîm = membro da corporação dos perfumistas; bem-hassorepim = membro da corporação dos ourives”. O professor Bouzon citara como fonte dessa informações: I. Mendelsohn, Guilds in Babylonia and Assyria, JAOS 60 (1940) 68=72; idem, Guilds in Ancient Palestina, BASOR 80 (1940) 17-21; R. de Vaux, Lês Institutions de L’Ancient Testament, vol. I, págs. 119ss.).