O 6° dia da criação VE: o mercado macro-regional bipolar (Lamec e Ada versus Lamec e Sela)

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  Livro: Teoria da História (Art. 26, 2.7.1.;2.7.2.;2.7.3., p. 188-196) www.tribodossantos.com.br

     É oportuno alguns esclarecimentos. O autor da Teoria da História subdividiu-a em duas grandes parte: Sistematização Teórica e Verificação Empírica. O presente artigo e os demais categorizados como pertinentes ao 6° dia da criação “VE” (na Verificação Empírica) na verdade, integram apenas a parte inicial do “6° dia da criação VE” (Gn 4, 19-24), que se encontra inserida na parte da Teoria da História, que chamamos de Verificação Empírica. Porém, a totalidade do “6° dia da criação inscrito na Verificação Empírica, estende-se até ao Gn 5, 28:

   “Lamec viveu cento e oitenta e dois anos, e gerou um filho, ao qual pôs o nome de Noé, dizendo: ‘Este nos trará, em nossas fadigas e no duro labor de nossas mãos, um alívio tirado da terra mesma que o Senhor amaldiçoou”

   No trecho indicado acima, o autor cita outro Lamec (grande rede global de mercados macro-regionais). O qual marca, de um lado, o período de hegemonia desta rede global, e por outro, o fim deste período, que corresponde ao fim do “6° dia da criação”. O fim do período de hegemonia de Lamec e o fim do “6° dia da criação” correspondem, por um aspecto, ao nascimento do filho Noé, que marca o início do “7° dia da criação”. A rede global Lamec prosseguirá existindo por mais algum tempo, porém, definhando em longa e grave depressão Noé. A segunda e conclusiva parte do “6° dia da criação” corresponde ao Gn 4, 25-5, 28. O próprio autor sugere essa subdivisão (parte inicial; parte conclusiva) do “6° dia da criação”, ao destacar a “segunda e conclusiva parte” (Gn 4, 25-5, 28) do “6° dia da criação”, como inclusa na “teoria da genealogia de Adão“, ou seja, nolivro da história da família de Adão“.

   O autor emprega o critério indicado acima, porque o “livro da história da família de Adão” abarca tanto a “segunda e conclusiva parte do “6° dia da criação” como todo o “7° dia da criação”. Sétimo dia este que inclui a depressão Noé, a fragmentação tripartite (Sem, Cam e Jafet) da grande rede global de mercados macro-regionais Lamec, a emergência do Escolhido e a convulsão social longa, profunda e generalizada que arrasou esse mercado global, e que é nomeada “dilúvio” (= II Período Intermediário).

    Em razão do referido critério estabelecido pelo autor, focalizaremos a “segunda e conclusiva parte do “6° dia da criação”, mas destacada da parte inicial do “6° dia da criação”. Focalizaremos essa segunda e conclusiva parte, no contexto do “livro da história da família de Adão“, mas em artigo posterior, que nomeamos de “Teoria da  genealogia de Adão”.

    Concluirmos os esclarecimentos acima, agora, vamos ao assunto próprio deste artigo. Ao focalizarmos, na Verificação Empírica, o “5° dia da criação VE” (Gn 4, 17-18), então, deixamos explicado o significado do símbolo “Lamec” na metáfora genealógica “Henoc gerou Irad, Irad gerou Maviael; Maviael gerou Matusael; Matusael gerou Lamec” (Gn 4, 18).[1]

   O autor da Teoria da História prossegue abordando Lamec, agora, no contexto da parte inicial do “6° dia da criação VE“, ainda na Verificação Empírica . Ele acrescenta (Gn 4, 19-22):

   “Lamec tomou duas mulheres, uma chamada Ada e outra Sela. Ada deu à luz Jabel, que foi o pai daqueles que moram em tendas, entre rebanhos. O nome do seu irmão era Jubal, que foi o pai de todos aqueles que tocam cítara e os instrumentos de sopro. Sela, de seu lado, deu à luz Tubal-Caim, o pai de todos aqueles que trabalham o cobre e o ferro. A irmã de Tubal-Caim era Noema”.

    Nos termos acima o autor prossegue tratando da divisão social do trabalho, tendo como referência tanto cada cidade-estado como o conjunto das cidades-estados que compõem uma mesma macro-região, que agora se encontra bipolarizada. Mas, a ênfase é posta, agora, sobre a preponderância assumida pela instituição do grande mercado macro-regional bipolarizado (Lamec e suas duas mulheres, Ada e Sela), enquanto novo preponderante sujeito eventual da sócio-história. E, sobre a ação exercida por este “Lamec bígamo”, no sentido da incrementação da divisão social do trabalho, no interior de cada cidade e no conjunto delas, numa mesma macro-região.

    É oportuno observarmos, em referência ao “5° dia da criação VE”, que o autor atribui a “Henoc” (cidade-estado), a “Irad” (monarquia), a “Maviael” (oligarquia agrária) e a “Matusael” (absolutismo tirânico ou oligárquico) a mesma condição de eventuais sujeitos sócio-históricos, e instituições sociais, econômicas, mas preponderantemente políticas-familiares. O “Lamec” que se desenvolve aos fins do “5° dia da criação” (Cf. Gn 4, 18), já é concebido como sendo sujeito sócio-histórico de natureza social, política, mas preponderantemente econômica, e especificamente mercantil. Porém,  este “Lamec dos fins do “5° dia da criação”, ainda não se apresenta de modo generalizado em todos os nomos da configuração espacial e respectivo mercado macro-regional egípcio. E, esta configuração  e respectivo mercado também ainda não se apresentam de modo bipolarizado. A configuração espacial e respectivo mercado macro-regional bipolarizados iriam se desenvolver mais adiante, ou seja, no período Pré-dinástico recente, também chamado de Época pré-tinita.

   No “6° dia da criação VE”, “o Lamec bígamo” (o Lamec em Gn 4, 19+, isto é, o grande mercado macro-regional, agora bipolarizadamente articulado) é concebido de modo diferente. Pois, esta instituição social é concebida como sendo sujeito sócio-histórico de natureza social, política, mas preponderantemente econômica, e especificamente mercantil. Pois, o processo de produção (agrícola e industrial) de mercadorias já se apresenta plenamente desenvolvido. O mesmo ocorre com a venda de serviços. Essa preponderância mercantil tem como base o pleno desenvolvimento da instituição divisão social do trabalho, enquanto estrutura social dominante” e “unidade de mudança. Em outros termos, o pleno desenvolvimento do fio condutor da sócio-história transcorrida em tempo muito longo. Ou seja, o estágio adiantado em que a divisão social do trabalho alcançara, na fase “Lamec bígamo”, em cada cidade da mesma macro-região. Durkheim ajuda-nos a entender a passagem da preponderância político-familiar, para a preponderância econômico-mercantil. Passagem esta que atribuímos à transição do “primeiro Lamec” (Gn 4, 18-c) ou Lamec do preíodo final do “5° dia da criação VE”, o que dá no mesmo, para o “Lamec bígamo” do “6° dia da criação VR” (o grande mercado macro-regional bipolar). Ele diz que essa passagem “trata-se de uma lei histórica que a solidariedade mecânica, que inicialmente é a única ou quase, perde terreno progressivamente e que a solidariedade orgânica se torna pouco a pouco preponderante”.[2] Ainda neste sentido, Durkheim acrescenta:[3]

   “Esse tipo social se assenta em princípios tão diversos do precedente que só se pode desenvolver na medida em que este desaparece. Com efeito, os indivíduos estão agrupados não mais segundo suas relações de descendência, mas segundo a natureza particular da atividade social a que se consagra. O meio natural e necessário não é mais o meio natal, mas a função que ele desempenha. Sem dúvida, quando uma nova organização começa a aparecer, tenta utilizar e se assimilar à já existente (…) Não há qualquer divisão do trabalho, por mais rudimentar que seja, que se possa adaptar a esses moldes rígidos, definidos, e que não são feitos para ela (o grifo é nosso). Ela só pode crescer ao se libertar desse quadro que a encerra. Desde que atinja um certo grau de desenvolvimento, desaparece a relação entre o número invariável de segmentos e aquelas crescentes funções que se especializam (…) Se podemos dizer que os hebreus do Pentateuco pertenciam a um tipo social menos avançado que os francos da lei sálica, e que estes, por sua vez, estavam acima dos romanos da XII tábuas, é que, via de regra, quanto mais aparente e mais forte seja a organização segmentar `a base de clãs num determinado povo, maior é o seu grau de inferioridade; ele não pode alcançar níveis mais altos senão depois de ter superado esse primeiro estado. É pela mesma razão que a cidade ateniense, embora pertencesse ao mesmo tipo da cidade romana, encontra-se entretanto numa forma mais primitiva: isso porque a organização político-familiar desapareceu menos rapidamente. Ela persistiu até quase à véspera da decadência (o grifo é nosso)”.

   Na condição concernente a gênese da divisão social ocorrida na cidade, o autor da Teoria da História emprega a fórmula análoga àquela que houvera aplicado, para descrever a gênese da divisão social e oposição entre, de um lado, o trabalho agrícola, e do outro, a cidade, onde o trabalho industrial e o comercial tiveram início, e se iniciara, também, a separação destes dois ramos de trabalho. Ele emprega a noção de genealogia” como metáfora de sucessivas e encadeadas gêneses de fenômenos sócio-históricos. Fenômenos estes que ocorrem, simultaneamente, no interior de cada cidade que integra uma mesma macro-região, e articuladamente entre as diversas cidades desta macro-região bipolarizada.

   Na metáfora indicada acima, “Lamec” (grande mercado macro-regional bipolarizado) é pensado como eventual sujeito da sócio-história, e suas duas “mulheres” (forças de trabalho), “Ada” e “Sela”, representam, respectivamente, duas diferentes forças de trabalho que ele submete, dirige e explora. Desse modo, “Lamec” é apresentado como sujeito bígamo, ou seja, ele possui, simultaneamente, dois cônjuges (“Ada” e “Sela”). Esta relação conjugal propicia, por um lado, o incremento do aumento populacional, tanto no interior de cada cidade como no conjunto das cidades da mesma macro-região bipolarizada. Tal relação conjugal propicia, por outro lado, o incremento da divisão do trabalho no interior da cada cidade e do conjunto das cidades relacionadas entre si pelo comércio, na mesma macro-região bipolarizada. Neste sentido, diz o texto (Gn 4, 19):

    “Lamec tomou duas mulheres, uma chamada Ada e outra chamada Sela”.

  Convém observar, de pronto, que a realidade histórica relativa ao mercado regional bipolarizado, que serviu de objeto de pesquisa tratou-se do Antigo Egito Pré-dinástico recente, também denominado Época pré-tinita. Sela representa o Sul (Vale ou Alto Egito). O qual se encontrava, segundo alguns estudiosos (cf. Lévêque, Pierre. As primeira civilizações. Volume I – Os impérios do bronze, Edições 70, lda., Lisboa, 1987, p. 103), sob a hegemonia dos reis de Hieracômpolis, em egípcio Nekhen, conhecido pelos textos como lugar de origem das Almas de Nekhen, que são os reis do sul sendo divinizados. Ada representa o Norte (Delta ou Baixo Egito), o qual se encontrava sob a hegemonia dos reis de Buto, os quais são chamados Almas de Pê (= Buto).

   De um lado (Ada = Delta ou Norte), uma determinada cidade-estado lidera o agrupamento de diversas outras, todas sob a hegemonia das corporações mercantis (Jabel), as quais têm relação de divisão social do trabalho, com as guildas culturais ou artísticas sofisticadas (Jubal). Neste grupo de cidade-estados, o regime político absolutista de natureza ditatorial é predominante, e tende para uma forma democratizante. Esta forma ditatorial de absolutismo é representada no símbolo “Matusael”, ou melhor, ela corresponde a uma das duas formas absolutistas de regime de governo representado neste símbolo. Regime este que representa os interesses das cidades-estados, em oposição aos interesses do campo.

   Do outro lado (Sela = Vale ou Sul), outra determinada cidade-estado lidera o grupo formado por diversas outras, todas sob a hegemonia das corporações de mineradores e de manufatureiros (Tubal-Caim), as quais têm relação de divisão social do trabalho, e dirigem e exploram seus respectivos trabalhadores (Noema). Neste grupo de cidades, o “regime político exercido pela oligarquia agrária absolutista” (a outra forma absolutista de regime de governo representada no símbolo “Matusael”) é predominante. Regime este que representa os interesses do campo, em oposição aos interesses da cidade.

   No período Pré-dinástico recente, o mercado macro-regional egípcio estava subdividido nos dois grande blocos indicados acima. Este aspecto bipolar foi representado, na Teoria da História, sob a forma “Lamec tomou duas mulheres, uma chamada Ada e outra Sela…” (cf. Gn 4, 19-22). O segundo Adão representa o aspecto bipolar apontado acima. Esse “Adão” representa, por conseguinte, o ponto de partida, que gera a primeira escala imperial de expansão do Grande Mercado, ou seja a I Dinastia. A qual é representada no signo “Set“. Neste sentido, o autor esclarece (Gn 4, 25):

   “Adão conheceu outra vez sua mulher, e deu á luz um filho, ao qual pôs o nome de Set, dizendo: ‘Deus deu-me uma posteridade para substituir Abel, que Caim matou“.

   Nos termos simbólicos enunciados acima, o autor representa a unificação do Alto (Sul) e Baixo (Norte) Egito, através das conquistas obtidas pelos reis do Alto sobre o Baixo Egito. Unificação essa concluída por Amósis, que inaugurou a I Dinastia (Set).

   O signo “Adão” em Gn 4, 25 representa, portanto, o nível de complexidade atingido pela configuração espacial e respectivo mercado macro-regional bipolarizado (Lamec bígamo), nos últimos 130 anos do período Pré-dinástico recente, atinente à fase expansiva do Grande Mercado.

   Por volta de 3200 ou 3400 a.C., o Grande Mercado egípcio bipolar Lamec (o Lamec do”6° dia da criação”: Gn 4, 19-24) instrumentalizou as vigorosas elites no poder da região Sul (Alto Egito), para gerenciar a unificação deste Grande Mercado, e assim romper barreiras comerciais. Neste sentido, Lévêque, Pierre (As primeira civilizações. Volume I – Os impérios do bronze, Edições 70, lda., Lisboa, 1987, p. 103) esclarece:

   “A vitória do Sul sobre o Norte – É difícil determinar a data que as culturas amratiense e gerzeense acabaram por amalgamar-se para dar origem à cultura egípcia do fim do Pré-dinástico recente (por volta de 3400?). Não é mais fácil saber quando se acabou a luta entre o Sul e o Norte. A vitória do Sul só é reconhecida através de alguns monumentos impossíveis de datar com precisão. Remontam sem dúvida aos derradeiros anos que precederam o estabelecimento da primeira dinastia dita tinita. É por isso que este último fim do Pré-dinástico é também denominado época pré-tinita. Os monumentos que descrevem a conquista do Norte pelo Sul São paletas e clavas votivas encontradas no templo primitivo de Hieracômpolis, em egípcio Nekhen, conhecidos pelos textos como o lugar da origem das almas de Nekhen que são os reis do Sul divinizado, sendo os do Norte chamados de almas de Pê (Buto)

2.7.2. Lamec e Ada; Lamec e Sela; Jabel e Jubal e filhos; Tubal-Caim e filhos

    Apenas para efeito de exposição do nosso trabalho, ordenaremos, em três partes, a decifração pertinente aos “filhos” de “Lamec” com suas duas “mulheres”, e os “filhos” dos filhos destas. Em primeiro lugar, mostraremos como a Teoria da História apresenta o desenvolvimento da divisão social do trabalho “Jabel” e “Jubal”. Divisão social esta gerada pelos “cônjuges” “Lamec” (grande mercado macro-regional bipolarizado) e “Ada” (determinadas forças de trabalho submetidas, dirigidas e exploradas por “Lamec”). Em segundo lugar, mostraremos como a referida teoria apresenta o desenvolvimento da divisão social do trabalho “Tubal-Caim” e “Noema”. Divisão esta gerada pelos cônjuges “Lamec” (o mesmo grande mercado macro-regional bipolarizado) e “Sela” (outra determinada parcela das forças de trabalho subjugadas, dirigidas e exploradas por “Lamec”). Em terceiro lugar, focalizaremos as implicações entre, de um lado, Jabel e sua condição denominada “pai” (de todos aqueles que vivem em tendas e têm rebanhos), e, Jubal e sua condição de “pai” (de todos os que tocam lira e charamela), e de outro lado, Tubal-Caim e sua condição “pai” (de todos os que trabalham o cobre e o ferro), e, sua irmã Noema.

    Mas, é importante que tenhamos sempre em mente, três coordenadas que estão presentes no pensamento do autor da Teoria da História. Coordenadas estas concernentes aos desdobramentos sócio-históricos relativos a “Lamec”, suas duas “mulheres”, etc. Relacionaremos, abaixo, as três aludidas coordenadas, à medida que adiantamos a explicação acerca da natureza dos fenômenos sociais simbolizados nos termos Jabel, Jubal, Tubal-Caim e Noema.

    Em primeiro lugar, os cônjuges “Lamec” e “Ada” geram um tipo de divisão social do trabalho, o qual é diferenciado e oposto, de certa forma, ao tipo gerado pelos cônjuges “Lamec” e “Sela”. “Lamec” e “Ada” geram, de um lado, “Jabel”, isto é, as corporações ou guildas que detêm e exercem o trabalho mercantil, e de outro lado, “Jubal”, ou seja, os grupos sociais (sacerdotes, escribas, burocratas, filósofos, cientistas, cantores, instrumentistas, dançarinos, etc.) que detêm e exercem trabalho cultural ou “artístico” bem elaborado. O autor da Teoria da História define como artista todos aqueles que exercem diferentes formas de trabalhos intelectuais, no sentido de produzir os conhecimentos que formam a identidade cultural de uma nação. Isto em distinção a todos aqueles que exercem trabalho material e serviços práticos. Esta concepção é semelhante à de Durkheim, o qual considera como obra de arte as “categorias do pensamento humano”: noções elaboradas sob o modelo das coisas sociais. Neste sentido, Durkheim diz:[4]

   “O racionalismo imanente a uma teoria sociológica do conhecimento é pois intermediária entre o empirismo e o apriorismo clássico. Para o primeiro, as categorias são construções puramente artificiais; para o segundo, ao contrário, são dados naturais; para nós, elas são, num certo sentido, obras de arte ( o grifo é nosso), mas de uma arte que imita a natureza com uma perfeição suscetível de aumentá-la sem limites”.

   “Lamec” e “Sela” geram, de um lado, “Tubal-Caim”, isto é, o trabalho industrial e/ou a mineração e seus derivados industriais, e de outro lado, “Noema”, ou seja, os grupos sociais que exercem trabalho material produtivo.

    Em segundo lugar, tanto o tipo de divisão social do trabalho gerado por “Lamec” e “Ada” como o tipo gerado por “Lamec” e “sela” desenvolvem-se, simultaneamente, no interior de cada cidade, e, no conjunto das cidades que integram a mesma macro-região. Em cada cidade, esse desenvolvimento ocorre de tal modo, que se estabelece uma relação nos moldes de pares opostos e complementares entre si. Pares opostos complementares entre, de um lado (“Lamec” e “Ada”), os trabalhos “Jabel” e “Jubal”, e de outro lado, (“Lamec” e “sela”), os trabalhos “Tubal-Caim” e “Noema”. No curso desse desenvolvimento, em cada cidade se delineia, entretanto, a hegemonia de um desses dois pares sobre o outro par.

    Em terceiro lugar, por fim, o conjunto das cidades da mesma macro-região apresentar-se-á, também, como um par de opostos e complementares entre si. Par este articulado por “Lamec”: o grande mercado macro-regional bipolarizado. De um lado, “Lamec” articula um determinado grupo de cidades sob a hegemonia da divisão social do trabalho gerada por si (“Lamec”) e “Ada”. Ou seja, nesse grupo de cidades ocorre a hegemonia das corporações que exercem trabalhos comerciais (Jabel) e do grupo que exerce o trabalho cultural ou “artístico” bem elaborado, desenvolvido e sofisticado (Jubal). Do outro lado, “Lamec” articula outro grupo de cidades sob a hegemonia da divisão social do trabalho gerada por si (“Lamec”) e “Sela”. Ou seja, nesse outro grupo de cidades ocorre, de um lado, a hegemonia das corporações que exercem trabalhos pertinentes à extração de minerais, e outras que exercem trabalhos manufatureiros na produção de derivados dos minerais (Tubal-Caim), de outro lado, a submissão e exploração dos segmentos sociais (escravos, jornaleiros, aprendizes, servos, etc.) que exercem trabalhos produtivos e serviços práticos.

2.7.3. Lamec e Ada, e seus dois filhos Jabel e Jubal

    A instituição social do grande mercado macro-regional (Lamec) submete e explora, através de seus agentes diretores, em cada cidade dessa macro-região, uma determinada parte dos segmentos constituídos das forças de trabalho. Parte esta nomeada “Ada” (em distinção a “Sela”). O segmento “Ada” das forças de trabalho gera (“deu à luz”), sob a direção do grande mercado macro-regional, as condições objetivas necessárias e respectivos dois “filhos” (dois novos modelos de fenômenos sócio-históricos). “Ada” gera, de um lado, o fenômeno sócio-histórico nomeado “Jabel”. Termo este que significa, literalmente, “conduzir”.[5] O autor da Teoria da História atribui a esse “Filho” (Jabel: fenômeno sócio-histórico) a condição de “pai”, em relação “aos que vivem sob tendas e têm rebanhos”. Ele atribui, também, a esse mesmo “filho” (Jabel), a condição denominada “irmão” (divisão de trabalho), em relação ao fenômeno sócio-histórico chamado “Jubal”. Termo este que significa, literalmente, “trombeta”.[6] Desse modo, o autor diz que “Ada” gera, de outro lado, o fenômeno sócio-histórico denominado Jubal (trombeta). Ao qual ele atribuía condição de “pai”, em relação a “todos os que tocam cítara ou lira, e instrumentos de sopro ou charamela”.

    É importante captarmos bem o sentido metafórico da relação genealógica, que a teoria da história atribui entre, de um lado, a “Lamec” (grande mercado macro-regional bipolarizado) e a “Ada” (os segmentos das forças de trabalho submetidos, dirigidos e explorados por “Lamec”), e de outro lado, os “irmãos “Jabel” e “Jubal”. Essa relação é representada na expressão “deu à luz” e representa a noção de filiação, Isto é, por um aspecto, ela representa o vínculo que a geração cria entre os filhos e seus genitores, e por outro aspecto, a relação de parentesco entre os pais e seus filhos, considerada na pessoa dos últimos.

    A relação genealógica de filiação é empregada como metáfora de relações sociais, conforme a expressão “dar à luz” indica. A qual tem o sentido de “dar origem”, “engendrar”, “produzir”, etc. Assim, os cônjuges “Lamec” (o grande mercado macro-regional) e “Ada” (determinada ala dos segmentos constituídos das forças de trabalho) “deram à luz” (deram origem) a dois “irmãos”, isto é, dois “filhos” dos mesmos “pais”, ou seja, “irmãos consanguíneos”, “Jabel” e “Jubal”. Assim, formam-se intricados laços “familiares”.

    A Teoria da História emprega, portanto, a noção de instituição familiar como metáfora de relações sociais. Já vimos o que o laço de “filiação” representa entre, de um lado, “Lamec” e “Alda”, e do outro lado, “Jabel” e “Jubal”: “dar origem”. Falta definirmos o sentido metafórico que o autor atribui à noção de “irmão” (entre “Jabel” e “Jubal”). Falta definirmos, ainda, o significado que o autor atribui a cada um dos dois fenômenos sócio-históricos representados, simbolicamente, nos temos “Jabel” e Jubal”.

    É oportuno lembrarmo-nos que estamos operando com o método de comparação tipológica. Desse modo, podemos conceber que o termo “irmãos” (laços consanguíneos) representa, no contexto da divisão e complexidade social do trabalho que se desenvolve na cidade, a noção de “cooperação” ou divisão social do trabalho. Divisão social esta que se desenvolve entre dois novos e significativos segmentos sociais afins entre si. Os quais o autor quer pôr em destaque.

[1] Cf. http://tribodossantos.blogspot.com.br/2013/04/divisao-e-oposicao-do-trabalho.html

[2] Durkheim, E. Durkheim – Sociologia, Coleção Grandes Cientistas Sociais, p. 85.

[3] Idem, p. 92-93.

[4] Durkheim, E. Idem, p. 159.

[5] Cf. informação fornecida por exegeta, na Bíblia de Jerusalém, no rodapé da p. 40, item “a”, referente ao Gn 4, 20-22: o termo “Jabel” significa “conduzir”.